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Em 2023, Portugal registou uma ligeira diminuição do número de vegans, vegetarianos e flexitarianos comparativamente ao estudo anterior feito em 2021, situando-se entre os valores mais baixos da Europa.
Parece uma boa notícia mas, na verdade, a tendência é de diminuição.
O fenómeno veggie, que junta vegans, vegetarianos e flexitarianos, abrandou nos últimos dois anos entre a população adulta em Portugal, segundo o relatório “The Green Revolution”. Apesar do movimento estar em constante evolução desde 2019, registou-se uma descida de 11,9% para 10,4%, um dos valores mais baixos da Europa.
Esta ligeira descida implica que mais de 90 mil consumidores veggie foram perdidos para a dieta omnívora, principalmente vegetarianos e vegans.
Segundo o relatório, realizado pela consultora de inovação espanhola Lantern, o fim da pandemia “parece ter provocado um “efeito de ricochete” na população, ávida de prazer e de desfrutar em todos os sentidos, incluindo a sua alimentação”. Em declarações ao PÚBLICO, David Lacasa, sócio da Lantern, acrescenta ainda o preço dos produtos como possível explicação para esta descida, não sendo, no entanto, “uma barreira para a mudança da dieta, já que existem outras opções de alimentos mais económicas”.
A soma total de vegetarianos e vegans continua a crescer lentamente, apesar de ter diminuído de 2,6% para 1,8% nos últimos dois anos. Relativamente aos flexitarianos, 8,6% dos portugueses – o equivalente a 750 mil portugueses – segue atualmente esta dieta, menos 0,7 pontos do que há dois anos.
Os países europeus mais atrasados são Portugal, Itália, Espanha e França, enquanto a Alemanha (país com o maior mercado de alimentos à base de plantas da Europa), a Áustria e os Países Baixos lideram o movimento – nestes países, os veggies são já um terço da população.
“Claramente o fator cultural tem um impacto muito forte na evolução do mercado plant based. Mas também é verdade que nos Países Baixos ou na Alemanha o número de vegans e de vegetarianos é muito superior e a sensibilização ambiental também, dois motores relevantes deste mercado”, referiu Lacasa, ao Público.
As mulheres continuam a liderar a tendência veggie a nível nacional, especialmente entre vegetarianos e vegans. Uma em cada nove mulheres é veggie (11,2%), em contraste com 7,1% dos homens.
“É possível pensar que as mulheres aderem a esta dieta com mais convicção do que os homens porque dão prioridade à saúde como se fosse um motor”, lê-se no relatório.
Apesar dos veggies estarem representados em todas as faixas etárias, estes concentram-se sobretudo entre os 25 e os 34 anos (16%), enquanto 13% se encontra na população com idade superior a 65 anos (grupo maioritariamente flexitariano).
“No que diz respeito aos agregados familiares, é comum que as pessoas do mesmo agregado familiar sigam o mesmo regime alimentar, provavelmente devido a estilos de vida partilhados, valores comuns e porque é mais fácil gerir as compras e a preparação das refeições”, diz o estudo.
Motivações para seguir uma dieta veggie
Para os flexitarianos, as motivações para seguir uma dieta veggie é, em primeiro lugar, a saúde. Já os vegetarianos e vegans são mais motivados pela preocupação com o ambiente e os animais”. A preocupação com a sustentabilidade também surge como argumento para 41% dos flexitarianos.
89,6% dos portugueses são omnívoros, mas 49% destes admite estar a reduzir o consumo de carne, especialmente a vermelha.
Agora, o reverso da medalha: 51% dos omnívoros não está a reduzir o seu consumo de carne por gostar de carne (69%), por hábito (36%) e porque comer carne é considerado saudável (23%).
Além disso, existe um grupo de consumidores designado “super carnívoros” que declara “adorar carne e comê-la quase todos os dias. Este subgrupo é mais representativo no sexo masculino (19%) (…) e nos jovens (32% com menos de 25 anos)”, nota o estudo.
No último ano, as alternativas vegetais aos laticínios mantiveram o seu crescimento em Portugal, enquanto as alternativas à carne à base de vegetais sofreram uma queda no volume de vendas, de acordo com os dados da Nielsen IQ de fim de 2023.
Na Europa, o mercado dos produtos plant based continuou a crescer, em termos gerais, de forma mais moderada. Já os Estados Unidos “têm um dos mercados plant based mais desenvolvidos do mundo, com o qual seria difícil encontrar paralelos coerentes com os países europeus. De facto, o seu mercado vegetal, que atinge 8 mil milhões de dólares (dados SPINS), ultrapassa o conjunto dos mercados europeus”.
Em relação a novas tecnologias como a carne de laboratório, que procuram desenvolver alternativas às proteínas e resolver os problemas identificados nos produtos tradicionais, o relatório refere que estas “não deixam de ser uma aposta arriscada porque, embora no papel pareçam ser tecnologias promissoras, há ainda muitas incógnitas na sua solução final”.
O relatório refere ainda que, apesar do avanço destas tecnologias, estas devem ser acompanhadas “de um sistema que aprove o seu desenvolvimento e comercialização, como fizeram recentemente os Países Baixos ao autorizar a experimentação, mas não a comercialização, de produtos de carne cultivados em laboratório”.
Face ao abrandamento no crescimento das categorias plant based e à diversificação das tecnologias e investimento, o relatório conclui que o movimento veggie atingiu o “ponto de maturidade” – as dietas plant based vieram para ficar, especialmente entre os jovens, “que estão a impulsionar a tendência e a adotar novos hábitos alimentares.”
“Chegou a altura de olharmos para o mundo dos vegetais de uma forma mais abrangente e de repensarmos verdadeiramente qual é a opção alimentar mais saudável e mais amiga do ambiente e dos animais”, sem esquecer “a diversidade dos legumes da horta, a versatilidade das leguminosas ou a riqueza nutricional dos frutos secos”.
O estudo refere ainda que “a narrativa da dieta veggie está a evoluir e os consumidores querem comer menos carne, mas não necessariamente substitutos inferiores”, referindo o exemplo da cozinha portuguesa, que conta com várias ofertas veggies, como o gaspacho alentejano.
Os resultados desta terceira edição do “The Green Revolution” foram recolhidos com base em 1005 entrevistas com representação da população portuguesa por sexo, idade e zona geográfica (margem de erro de 3,2%), durante novembro de 2023.
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