Mudar para dietas de base vegetal significa ar mais limpo — e pode salvar mais de 200 mil vidas por ano

De acordo com um estudo recente realizado por uma equipa internacional de investigadores, mudar para uma dieta à base de plantas poderia evitar até 236 mil mortes prematuras por ano, melhorar a qualidade do ar e aumentar o produto interno bruto (PIB) a nível mundial.

O novo estudo “Impactos das alterações alimentares na qualidade do ar a nível mundial e regional” analisou o que aconteceria à qualidade do ar se as pessoas em todo o mundo mudassem para dietas mais saudáveis e amigas do ambiente, incluindo dietas flexitarianas (com menos carne), vegetarianas e veganas.

Os resultados sugerem que incentivar mudanças na dieta pode ser uma estratégia de mitigação valiosa para reduzir a poluição do ar e os impactos económicos e de saúde associados, especialmente em regiões com agricultura intensiva e elevada densidade populacional.

“As mudanças na dieta para um menor consumo de alimentos de origem animal (…) reduziriam substancialmente as emissões agrícolas – em 84-86% globalmente para a adoção de dietas veganas, 69-70% para dietas vegetarianas e 44-48% para dietas flexitarianas”, refere o estudo.

Os investigadores descobriram que as regiões com grandes quantidades de gado – como o norte de Itália, os Países Baixos, a Bélgica, o centro-oeste dos Estados Unidos e o sul da China – registariam reduções especialmente notáveis nas concentrações de partículas finas, responsáveis pela poluição do ar.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), registaram-se 4 milhões de mortes prematuras relacionadas com a poluição do ar exterior em 2019. A agricultura é responsável por cerca de um quinto dessas mortes.

Por isso, melhor qualidade do ar leva a uma melhor saúde. Os investigadores descobriram que mais de 100 mil mortes prematuras poderiam ser evitadas globalmente através da adoção de dietas flexitarianas. Se toda a população mundial se tornasse vegana, o número de mortes prematuras devido à poluição atmosférica poderia diminuir em mais de 200 mil. 

A investigação revelou que a poluição atmosférica reduz a produtividade dos trabalhadores em muitos empregos diferentes, desde quintas a fábricas. Por isso, um ar mais limpo pode ter um impacto positivo na economia. A mudança para dietas veganas poderia aumentar o PIB mundial em 1,3 triliões de dólares, o equivalente a mais de 1%.

Outros benefícios da transição para dietas à base de plantas incluem menor risco de doenças relacionadas com a alimentação, menos uso da terra, menos fertilizantes e menos água para a agricultura. 

“A melhoria da qualidade do ar é, sem dúvida, benéfica para a nossa saúde e para a economia. Argumentamos que as mudanças na dieta devem ser colocadas no menu das políticas”, escreveram Marco Springmann, autor principal do estudo e investigador sénior em ambiente e saúde na Universidade de Oxford, e Toon Vandyck, outro autor do estudo e investigador em economia na KU Leuven, em declarações ao The Conversation. “A adoção de dietas mais baseadas em vegetais é uma estratégia rentável para combater as emissões. Mas também reduz a necessidade de investimentos dispendiosos em equipamento de redução de emissões para sistemas pecuários, tais como depuradores que removem o amoníaco do ar”.