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Não, não são cidades que se esgotam no tempo. São cidades de onde não vamos querer sair – mais acessíveis, funcionais e sustentáveis.
E se pudesses ter o teu local de trabalho e serviços essenciais a apenas 15 minutos de tua casa? O conceito de planeamento urbano – “Cidade de 15 minutos” – defende isso mesmo. Que as nossas deslocações diárias possam ser feitas em apenas 15 minutos a pé, de bicicleta ou transportes públicos.
Paris dá o exemplo
Foi na capital francesa que o professor franco-colombiano, Carlos Moreno, criou este conceito de proximidade que apresentou na COP21, o encontro das Nações Unidas que deu origem aos acordos climáticos de Paris, em 2015. Anne Hidalgo, a primeira mulher a ocupar o cargo de Presidente da Câmara de Paris, tem desde então demonstrado o seu apoio e compromisso político face à transformação da cidade de Paris em “Cidade de 15 minutos”.
As suas medidas incluem a revitalização das principais praças públicas para que haja mais espaços verdes para os peões, mais ciclovias, programas de bicicletas partilhadas e circulação restrita para os automóveis em determinadas zonas. Para estimular o comércio local, a Câmara adquiriu lojas privadas que colocou a concurso para estimular a produção local em circuitos mais curtos, na área da alimentação, cultura e artesanato. Estão também a ser desenvolvidos projetos-piloto nas escolas, para que se abram ao público enquanto locais de convívio, sobretudo à noite e aos fins-de-semana. Os anfiteatros estão a ganhar novas funcionalidades como as de lugares de apresentação e reunião e, a agricultura urbana está a ocupar espaços improváveis e a transformá-los em recursos visíveis, como é exemplo a horta localizada no telhado da Ópera de Paris. Sabias que desde os anos 80 existem colmeias localizadas nos telhados mais famosos da capital de França, como os do Musée d’Orsay, a Casa da Moeda ou a Academia Francesa?
Devolver a cidade às pessoas
As “Cidades de 15 minutos” devem ser “locais onde possamos viver, trabalhar e prosperar sem termos de nos deslocar para outros locais”, explica Moreno na sua palestra TED.
Como? Repensando a mobilidade, desenvolvendo uma economia local através de comércio justo e acessível a todos, re-localizando o trabalho, criando condições para que exista uma maior qualidade de vida dos seus cidadãos, promovendo as ligações sociais e permitindo-lhes ser mais ativos e solidários com os seus vizinhos. Por fim, construindo mais espaços de lazer e espaços de utilização mista como hortas públicas, quintas pedagógicas entre outros.
Porquê? Para que as cidades se tornem locais mais sustentáveis, com menor tráfego e emissões de gases de estufa, onde exista mais qualidade de vida por via da promoção da atividade física, interação social e sentido de comunidade, sejam mais acessíveis, com serviços essenciais e empregos de proximidade para todas as pessoas independentemente do seu género e estatuto social e económico.
Pode Lisboa ser uma “Cidade de 15 minutos”?
A micromobilidade está a ser trabalhada em Lisboa, através do investimento em sistemas de bicicletas partilhadas, como o da GIRA, que prevê a expansão da sua frota renovada a todas as freguesias de Lisboa. Já em Cascais, a aplicação MobiCascais permite escolher opções de deslocação mais sustentáveis e respetivos lugares de estacionamento e postos de carregamento mais próximos.
Por sua vez, a expansão da linha do metro de Lisboa prevê unir o Cais do Sodré ao Campo Grande, formando um anel circular no centro de Lisboa e melhorando a acessibilidade dos cidadãos. E temos também observado uma melhoria nas obras de ciclovia.
A MUBI, Associação pela Mobilidade Urbana, simplifica a importância da adoção da bicicleta como meio de transporte. “Os ciclistas produzem menos 84% de emissões de CO2 relacionadas com a mobilidade, do que os não ciclistas. “Se uma família puder prescindir de um automóvel, poupará 4 mil euros por ano, em média, que poderá utilizar na educação dos filhos, em habitação, cultura ou atividades de lazer, por exemplo”, lê-se no site oficial.
Pela Europa, países como a França, Holanda e Bélgica atribuem compensações aos trabalhadores que pedalam até ao seu local de trabalho, de acordo com os quilómetros percorridos. Em Portugal, outras medidas de incentivo como a redução da taxa de IVA para velocípedes estão também a ser debatidas neste âmbito.
Além da mobilidade, Lisboa tem demonstrado o seu apoio na área do empreendedorismo e criação de novos espaços públicos com edifícios de uso misto, como será o caso do projeto “Campo Novo”, um bairro em plena Alvalade que irá incluir apartamentos, escritórios, cafés, lojas, restaurantes e 20 mil metros quadrados de jardins, previsto para Março de 2023. Ou o “Oriente Green Campus”, um complexo de escritórios em Moscavide que será o primeiro a receber a certificação LEED Platinum em Lisboa, uma certificação para construções sustentáveis concedida pela United States Green Building Council.
Como podemos ajudar a promover este conceito?
O compromisso político é essencial mas, cada um de nós pode, e deve, dar voz a este tema através de uma abordagem colaborativa junto das entidades municipais, as empresas locais e as organizações comunitárias. Os nossos bairros serão tão mais nossos se forem o reflexo de uma visão partilhada.
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