No El Corte Inglés, a roupa usada ganha uma nova vida
09/10/2024
O El Corte Inglés e a To Be Green, spin-off da Universidade do Minho, uniram esforços para, numa parceria inédita, produzirem 300 novos artigos com
É uma referência no que toca a encontrar novas formas de fazer a roupa durar mais tempo e evitar o desperdício na produção têxtil. Agora, a Play Up dá um passo gigante neste caminho, ao lançar uma coleção feita com o fio obtido da reciclagem do resíduo pós-industrial da marca. Mas há mais: vem aí uma loja online de roupa em segunda mão, feita com aquela que, depois de muito uso e amor, é devolvida à fábrica.
As mãos são tão rápidas que parecem máquinas. São certeiras, eficazes, e ajudam a montar uma marca que se esforça a cada linha, a cada agulha, para fazer roupa sem que nada fique para trás.
São estes os bastidores da Play Up, uma marca que faz da sustentabilidade uma bandeira e que nos abriu as portas da fábrica, em Forjães, Esposende, para vermos de que forma é possível fazer melhor na indústria têxtil.
A Play Up nasceu em 2004, mas só em 2017 se deu a viragem para o renascimento de uma marca que agora quer o seu foco na qualidade da matéria-prima, no reaproveitamento de todos os tecidos e recursos e que, apesar de ser um negócio, apela sempre ao consumo consciente.
Uma roupa que se prolonga no tempo
Numa das muitas salas que compõem o processo de fazer uma peça de roupa, vemos um pedaço de tecido a ser esticado e torcido até ao seu limite. “É aqui que a roupa é testada, lavada e secada como se em casa de um cliente estivesse. Só assim conseguimos perceber se é resistente o suficiente para que dure o máximo possível, sem imperfeições”, explica Bruno.
São muitas as estratégias da Play Up , que pertence à têxtil Etfor, para fazer com que a roupa dure mais tempo do que as que estamos habituados a ver no mercado. Além de as peças serem de cores bastante neutras e alguns modelos serem unisexo, algumas pelas estão pensadas para serem transformadas noutras quando deixarem de servir. Aliás, as etiquetas trazem mesmo essa informação, para quem se quiser aventurar na transformação das peças.
As presilhas do vestido podem ser puxadas quando as mangas ainda estão muito compridas, um outro vestido podem ser cortado para virar uma camisola, as calças têm um elástico dobrável, para que possam crescer, e o casaco facilmente vira um colete. “Isto é para contrariar a ideia de que a roupa de criança não dura muito tempo”, diz Susana Correia, diretora criativa da Play Up.
A empresa opta por tingimentos naturais e usam fibras biológicas e recicladas. A roupa da Play Up é também monomaterial, de maneira a facilitar o processo de reciclagem no final do ciclo.
Mas com a Play Up, este ciclo só se fecha depois de dar muitas voltas. Agora, com a coleção Close de Loop, dão uso ao fio obtido da reciclagem do resíduo pós-industrial da marca, que resulta numa malha 100% reciclada e reciclável. Chamam-lhe “Fibra Re(play)” e é a base da recente coleção monocromática em que todas as peças assumem a cor natural do fio, reduzindo significativamente os consumos de água, químicos e energia.
Uma marca que quer sempre fazer mais
A atual coleção “Close The Loop” incorpora 20% resíduo Play Up e 80% de resíduo do parceiro fiador. Até 2025, as ambições da Play Up passam por ter 25% das matérias-primas provenientes de fios “close the loop”; 5% da receita ser proveniente de modelos de gestão circulares e terem um passaporte digital das peças, sendo que algumas delas voltam à fábrica. Como? Através do programa Take Back, que permite ao cliente devolver a peça que já não serve, para que ganhe uma nova vida. Em troca, recebe 5€ por cada peça, a serem usados numa futura compra na loja online.
Se as peças estiverem irreparáveis, serão transformadas em novos materiais. Se estiverem em boas condições, serão vendidas na nova loja em segunda mão, uma das outras novidades da marca, a abrir em breve.
“São sempre pequenas mudanças, mas que vão fazendo este caminho”, refere Susana, ela própria a vestir uma das peças mais recentes da coleção Close de Loop. É que apesar de ser uma marca de roupa de criança, as mães também têm lugar.
“Sentíamos falta de roupa para as sessões fotográficas da marca e depois pensamos: porque não fazer uma coleção para as mulheres?”. E aí está ela, em tons monocromáticos, de corte simples e, acima de tudo, com aquele ar confortável que uma vida dividida em mil tarefas exige.
Com uma forte presença no estrangeiro — cerca de 90% das peças são para venda no exterior — a Play Up está presente no canal multimarca, através de uma ampla rede de lojas em toda a Europa e em vários países da América do Norte e da Ásia. Isto acontece ao mesmo tempo que desenvolve este contacto próximo com o cliente final, que é parte integrante deste processo de valorizar o importante e de fechar os ciclos.
Marta Cerqueira é minhota e vegetariana. A sorte é que vive em Lisboa, onde há mais tofu do que sarrabulho. É jornalista há mais de 15 anos, os últimos dos quais a escrever sobre comida e sustentabilidade. Agora, já fora das redações, continua a escrever sempre que pode, seja em revistas, diários, post its, ou na sua página de Instagram, que usa para partilhar uma vida que se divide entre ser mãe-pessoa-foodie-viajante. Ainda assim, criou a Peggada para poder escrever sobre o que não cabe numa revista, num diário, num post it ou no Instagram: um mundo melhor.
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