O projeto PISTA surge para ajudar os agentes turísticos da Região Alentejo a adotar soluções sustentáveis, com base na partilha gratuita de conhecimento e ferramentas de monitorização.
O PISTA é um projeto criado em 2020 que promove a agregação e partilha de conhecimento técnico-científico relacionado com o desenvolvimento sustentável da atividade turística na Região Alentejo. O objetivo é inspirar, apoiar e capacitar os agentes turísticos regionais na transformação do território num destino turístico sustentável e de referência internacional.
A informação é disponibilizada de forma gratuita a qualquer agente do setor público e privado ou cidadão, numa única plataforma: a PISTA Digital. Trata-se de “um sistema inteligente de turismo sustentável do Alentejo e Ribatejo que pretende proporcionar aos agentes uma ferramenta tecnológica que contribua para o seu envolvimento na avaliação dos riscos, custos, impactos e até do limite da sua atividade”, explica Jaime Serra, investigador responsável do projeto, em declarações à Peggada.
Para o investigador, “esta desconstrução do conhecimento e da informação, que assenta em pilares de uma metodologia rigorosa e da ciência, passa a estar disponível na sociedade civil para contribuir para o crescimento da literacia em turismo da sociedade civil e, sobretudo, envolver cada vez mais os residentes no processo, para que a ação climática também se concretize com cada um de nós. Esta é uma mensagem que trazemos das Nações Unidas e que queremos perpetuar nas políticas públicas e privadas do turismo”.
A plataforma é gerida pela Universidade de Évora, a partir do Observatório de Turismo Sustentável do Alentejo (ASTO), que é coordenado pela universidade em parceria com a Entidade Regional de Turismo do Alentejo.
“Foi o primeiro [observatório] a ser constituído em Portugal, mas hoje já existem mais cinco no país. Fomos o piloto em 2017 e isso constituiu-se como uma grande alavanca para tudo isto que está a acontecer”, refere o coordenador acerca do ASTO, que integra uma rede internacional de observatórios mundiais e conta com a chancela das Nações Unidas, através da Organização Mundial do Turismo.
A par da plataforma, o projeto promove ainda diversas ações no âmbito do turismo sustentável, incluindo a participação e organização de eventos, webinars, seminários e workshops de sensibilização e capacitação dos agentes regionais.
Apesar de ter terminado o seu financiamento inicial em dezembro de 2022, o projeto “deixou resultados e ferramentas que têm proporcionado aos agentes públicos e privados alguns instrumentos de trabalho e de monitorização”, conta Jaime Serra.
Com os olhos postos no futuro, Jaime Serra admite a submissão de uma nova candidatura “para medir exatamente o impacto do turismo no litoral alentejano, pelos vários efeitos que a própria sub-região tem – desde o turismo de luxo que está a nascer até às questões da imigração”.
A plataforma oferece uma grande diversidade de dados, desde indicadores para o turismo sustentável, análise de mercado e tendências do turismo até estudos e relatórios produzidos por entidades nacionais e internacionais.
Também é possível consultar informações sobre o perfil dos visitantes – recolhido por cerca de 20 postos de turismo das regiões do Alentejo e Ribatejo, “que registam todos os dias, em tempo real, a afluência ao seu posto de turismo” – e a perceção dos residentes face ao turismo do território.
“Qualquer residente pode aceder a esta plataforma, responder a um questionário e, em tempo real, consultar os resultados sobre a perceção da sua NUT III relativamente ao impacto do turismo ao nível social, ambiental, económico e cultural”, diz Jaime Serra.
Atualmente, não existe um financiamento direto da plataforma, mas o projeto está garantido para os próximos três anos, com o backoffice a ser mantido pelos investigadores afetos ao observatório.
“A plataforma funciona por si, uma vez que criámos um sistema quase independente ancorado à nossa cátedra da universidade de High Performance Computing. Parece um pouco estranho, mas o que nós fizemos foi tentar encontrar uma solução interna que permitisse que o PISTA Digital pudesse ter uma tecnologia por detrás do processamento de dados e armazenamento de elevados volumes de dados que fosse sustentável. Como a universidade gere um dos supercomputadores mais rápidos do país e até da Península Ibérica, o Oblivion, conseguimos afetar a plataforma a essa infraestrutura financiada pela FCCN [serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia] e por projetos europeus”, descreve o responsável.
A plataforma permite aos agentes guardar os seus dados em segurança, “num servidor que trabalha 24 horas com capacidade para processar em tempo real um grande volume de dados em simultâneo”, aponta o coordenador.
Como as capacidades de processamento e armazenamento são menores comparativamente, por exemplo, com projetos de astrofísica ou outras áreas da ciência, “os custos associados são naturalmente muito mais baixos do que seriam numa cloud ou na compra de um servidor, o que garante a sustentabilidade do projeto do ponto de vista tecnológico”.
No site do projeto é ainda possível encontrar o PISTA Toolkit, um manual para a implementação de práticas sustentáveis no turismo que ajuda as organizações a implementar “práticas quotidianas muito simples” e “pequenas medidas de inter-relação com a comunidade local”.
No total, são 71 medidas divididas em sete áreas de aplicação: sensibilização, resíduos, política de compras, gases com efeito de estufa, energia, água e responsabilidade social.
De acordo com Jaime Serra, o manual visa “promover um destino mais sustentável sem envolver grandes custos, mas tendo grandes retornos do ponto de vista daquilo que é o impacto da atividade turística nos territórios, sobretudo em territórios rurais e territórios do interior, mas também em territórios que estão no litoral (como é o caso do litoral alentejano, que tem especificidades muito próprias)”.
“Além da transição digital, o foco passa por conseguir uma diminuição da pegada, uma maior consciencialização do impacto que a atividade pode ter em territórios como o nosso”, esclarece o responsável. “Acreditamos que podemos atingir mais rápido as metas de 2030 ou 2050 que estão estipuladas pelas Nações Unidas em cada um dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável”, acrescenta.
Ao contrário de muitas ferramentas existentes, o projeto não quis criar “uma plataforma que fosse um modelo de negócio”. “Quisemos criar uma plataforma de acesso público para que a sociedade civil e os agentes pudessem utilizá-la de forma livre e consciente, sem a obrigatoriedade de um pagamento ou serviço qualquer”, admite o responsável pelo projeto.
Segundo Jaime Serra, desde o primeiro semestre de 2024 que o projeto está em articulação com cerca de dez hotéis (e algumas câmaras municipais) “numa lógica experimental de medição [mensal] dos seus consumos energéticos, de produção de lixo, de resíduos e de consumo de água”, naquilo que tem sido “um processo naturalmente lento”.
Uma vez inseridos os dados, o sistema do PISTA Digital devolve gratuitamente uma análise com base em indicadores (KPIs) – como consumo de energia por quarto disponível, por quarto ocupado, média de consumo de energia mensal – e, ao mesmo tempo, um benchmarking. Ou seja, os hotéis “recebem um referencial relacionado com alguns selos de certificação conhecidos no mercado, como o Biosphere ou a Chave Verde, e automaticamente o empresário tem uma referência se está acima ou abaixo dos indicadores associados a determinada certificação”, explica o responsável.
“Esta interatividade é um ganho de parte a parte, ou seja, não há um pagamento da utilização da plataforma. O que há é o fornecimento de dados e, posteriormente, de soluções, de um diagnóstico”, sublinha Jaime Serra. Apesar de ser “um processo muito difícil de envolvimento dos agentes”, devido às constantes mudanças nos “modos de trabalhar” diários, esta prática “tem resultado num feedback muito positivo da parte de alguns desses empresários”.
Os produtos certificados, neste caso os cereais do Alentejo, promovem a economia circular, evitam o desperdício e respeitam o ciclo das chuvas português. A Associação
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Este artigo aborda uma ação que promove a mudança para cidades e comunidades mais inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis, ajudando na redução do impacto ambiental adverso das cidades.
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