Novo satélite climático da NASA permitirá compreender melhor o aquecimento do planeta
O satélite PACE da Nasa fornecerá informações sobre como o oceano e a atmosfera interagem e de que forma as alterações climáticas afetam essas interações.
Uma equipa de cientistas de Cambridge prevê todos os anos quais as questões relacionadas com a biodiversidade e o ambiente às quais o mundo tem de responder. Para 2024, os desafios vão desde contrariar a morte dos ouriços do mar às formas de captar emissões a partir de pó. Fica a conhecer melhor as tendências ambientais para este ano.
Que o mundo é imprevisível e complexo em partes iguais, ninguém duvida. Ainda assim, a sofisticação dos modelos matemáticos e predicativos ao dispor da ciência já permite analisar tendências quanto ao rumo que o ambiente e a biodiversidade do planeta terão de encarar.
Não se trata apenas de prever o aquecimento global — esse, recorde-se, é um tema em debate desde os anos 70; não, o que a equipa liderada pelo biólogo conservacionista William Sutherland na Universidade de Cambridge faz desde 2009 é observar alterações tecnológicas, económicas e políticas — entre outras variáveis — para identificar temas em concreto que terão maior probabilidade de terem um efeito substancial na biodiversidade em todo o mundo.
Nas suas previsões para 2024, Sutherland e restante equipa apontam 15 temas mais urgentes que os demais e que querem ação ou, pelo menos, profunda reflexão. Um deles, desde logo, trata-se da utilização do hidrogénio como alternativa sustentável aos combustíveis fósseis.
Ainda que esta seja, em si, uma substância menos poluente que o carvão ou os produtos petrolíferos, os seus métodos de produção ainda dependem muito do gás natural, ou seja, outro combustível fóssil que provoca emissões. Além disso, os processos que precisam de água doce ou água do mar como matéria-prima ou que exploram reservatórios naturais subterrâneos apresentam também potenciais ameaças, ainda que não intencionais, de destruição ou perturbação de habitats.
Para que esta alternativa possa ser o menor impacto possível, é preciso que os sistemas de produção, distribuição e utilização de hidrogénio sejam concebidos com cuidado. A grande dúvida é se tal acontecerá quando a sua criação se tornar num negócio rentável, pode servir como apenas mais uma forma de greenwashing.
Outra das potenciais soluções de combate às alterações climáticas que é preciso medir com cuidado é o armazenamento de carbono no oceano. Esta é vista como uma alternativa virtualmente inesgotável dada a capacidade que o mar tem em captar CO2 e perante a imensidão da área que ocupam os oceanos no planeta — três quartos.
As estratégias colocadas em cima da mesa vão desde adicionar fertilizantes à água do mar até injetar CO2 debaixo das rochas oceânicas, passando pelo próprio aumento do pH dos oceanos. As grandes dúvidas colocadas são que não só nenhuma destas sugestões foi testada — pelo que ninguém sabe realmente qual será a sua capacidade de armazenar carbono —, como também não se sabe que impactos terão para os ecossistemas marinhos.
A parte azul do nosso planeta é patentemente das mais afetadas de todas. Veja-se o que está a acontecer à zona mesopelágica dos oceanos, mais conhecida como “zona crepuscular” por encontrar-se entre os 200 aos 1000 metros de profundidade. É um segmento não só rico em vida, animal e não só, como é essencial para o funcionamento de todo o sistema, pois estas criaturas, quando morrem, fornecem matéria orgânica abundante para o oceano profundo e as suas carcaças ficam cobertas sob sedimentos, evitando-se que libertem emissões quando se forem decompondo.
O problema é que o aquecimento global também está a afetar esta zona recôndita do planeta: os cientistas temem que este aquecimento faça com que a matéria orgânica se decomponha mais rapidamente, reduzindo a sua capacidade de alimentar a vida marinha e de sequestrar carbono.
Outra questão prende-se com a disrupção das correntes marítimas, um tema que, segundo os autores, não tem merecido suficiente atenção. Responsáveis por ciclos reprodutivos e migratórios dos animais, estas correntes são, por sua vez, impulsionadas por variações de temperatura e salinidade. Ora, o aumento das concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera está a modificar o seu funcionamento, já que o derretimento das calotas polares altera as concentrações de sal.
É o que se teme estar a acontecer com a corrente abissal da Antárctida, que poderá abrandar drasticamente nos próximos 25 anos. Se tal acontecer, poderá reduzir a quantidade de oxigénio e, por sua vez, mudar a disponibilidade de alimentos e as condições de habitabilidade para a vida no mar e em terra. Além disso, pode também trazer consequências à superfície: sendo as correntes responsáveis pela formação de ventos, esta alteração pode gerar fenómenos imprevisíveis.
Ainda relacionado com o mar, outro dilema que os conservacionistas enfrentam é o contínuo desaparecimento dos ouriços. Estes são fundamentais para manter a integridade dos recifes de coral, alimentando-se das algas que, de outra forma, iriam sobrecarregar o ecossistema. No entanto, o que se tem visto é muitos destes animais a morrer em locais como o mar das Caraíbas, o mar Mediterrâneo e até o mar Vermelho.
Não se sabe o que tem causado esta mortandade junto dos ouriços do mar, mas os investigadores suspeitam que o responsável pelas mortes no Atlântico seja um micróbio ciliado. Se esse também for o caso nos outros locais, há razões para considerar terem ocorrido alterações das condições ambientais que favorecem o crescimento destes micróbios. Os impactos podem ser tremendos, já que estes seres são conhecidos por infetar peixes, corais, caranguejos e outros seres marinhos.
Outro animal que vê a sua existência ameaçada — o que, por sua vez, traz problemas gigantescos para a restante vida na terra — são as minhocas. Desde os estudos de Charles Darwin que sabemos com estas desempenham um papel vital em muitos ecossistemas, reciclando a matéria vegetal morta, libertando nutrientes e melhorando a qualidade do solo. O seu trabalho silencioso vale tanto para a manutenção de biomas como para a produtividade das terras agrícolas.
No entanto, o que se observou recentemente no Reino Unido é que o número de minhocas diminuiu um terço ou mais nos últimos 25 anos, provavelmente devido ao aumento da utilização de pesticidas. Se esta tendência se mantiver noutros locais e continuar inalterada, a perda poderá ter enormes ramificações adversas não só para o ambiente, como para a nossa alimentação.
Este problema anda de mãos dadas com a saúde dos solos, que é difícil de apurar já que as estratégias convencionais para determiná-la requerem escavações não só dispendiosas, como muitas vezes resultantes na devastação desse mesmo solo. No entanto, há novas tecnologias que podem alterar o panorama, nomeadamente a ecoacústica do solo — tecnologia de captação de som capaz de identificar a localização e os movimentos dos invertebrados subterrâneos.
Outra questão relacionada com a terra que nos produz alimento é a criação de amoníaco. Este trata-se de um ingrediente fundamental dos fertilizantes agrícolas, mas a sua produção requer enormes quantidades de energia — muitas vezes criada por combustíveis fósseis.
Há boas e más notícias neste departamento: as boas é que está a ser desenvolvida numa nova técnica que consiste na pulverização de minúsculas gotículas de água sobre uma malha magnética e que promete reduzir drasticamente o custo e a pegada de gases com efeito de estufa da produção de amoníaco; as más é que a produção de amoníaco mais barata e com menos emissões de carbono pode provocar um aumento da utilização de fertilizantes e, consequentemente, a ameaça de poluição do ar e da água. Além disso, como os fertilizantes aumentam a capacidade dos micróbios do solo para produzir óxido nitroso, um potente gás com efeito de estufa.
A utilização de pó rochoso para a agricultura é outro dos temas sob debate para este ano. Esta pode ser um aliado inesperado no combate às alterações climáticas, já que este tipo de poeira consegue captar carbono e também é passível de melhorar as culturas, já que pode provocar o aumento da presença de microrganismos benéficos no solo, a redução da ameaça dos nutrientes para a água doce e a diminuição da acidez do solo e da água do mar.
No entanto, há também vários riscos a ter em consideração: este pó pode levar a um aumento do fluxo de sedimentos para as águas de superfície, ao agravamento da poluição por metais pesados, à deterioração dos organismos que vivem no solo e até ao incentivo ao aumento da atividade mineira.
Tanto o pó rochoso como o amoníaco são, assim, potenciais soluções que têm de ser bem concebidas dados os potenciais efeitos adversos. O mesmo não se pode dizer das culturas agrícolas no escuro — há investigadores a desenvolver um processo alternativo à tradicional fotossíntese que utiliza eletricidade, água e dióxido de carbono para produzir acetato. Este, por sua vez, pode ser utilizado em vez da glucose produzida pela fotossíntese para estimular o crescimento das plantas.
Se for bem sucedida, esta alternativa pode aumentar substancialmente a produtividade das plantas cultivadas em ambientes artificiais, podendo até, em alguns casos, eliminar a necessidade de luz. Se a energia utilizada no sistema for proveniente de fontes renováveis — e esse, como sabemos, é um grande “se” — o resultado poderá ser uma produção de alimentos em ambientes fechados altamente eficiente e amiga do ambiente, que contribua para a conservação biológica ao reduzir a necessidade de transformar habitats em terrenos agrícolas.
A análise da equipa de William Sutherland para 2024 inclui ainda os esforços cada vez mais intensos e sérios para criar alimentos a partir de micróbios, nomeadamente ao cultivar bactérias com hidrogénio, azoto e dióxido de carbono. Se tais substâncias forem produzidas com recurso a energias renováveis, o produto poderá ter uma pegada climática e um impacto ambiental global muito inferiores aos da carne, dos lacticínios e de outras fontes convencionais de proteínas alimentares.
Outro dos temas é o impacto que o fumo dos fogos florestais está a ter sob o clima — incluindo-se aqui não só os incêndios involuntários, como também queimadas para efeitos de limpeza. O fumo tenderá a perturbar os ciclos climáticos normais e alterar a forma como a temperatura e a pressão se distribuem na atmosfera, bloqueando a luz solar e redistribuindo a humidade no ar.
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