4 apps que te ajudam a calcular (e reduzir) a pegada de carbono
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O conceito de “pegada de carbono” foi popularizado pela empresa petrolífera BP no início da década de 2000, com o objetivo de transferir a responsabilidade da descarbonização para o lado dos consumidores.
De acordo com investigadores do Oxford English Dictionary, este ano assinalam-se os 25 anos desde a primeira utilização registada do termo “pegada de carbono”, numa edição de 1999 da revista “Vegetarian Good Food” da BBC.
Apesar de nos ter ajudado a compreender o nosso impacto no planeta, atribuindo números tangíveis a ações, alguns investigadores ambientais consideram agora que o termo transferiu demasiado a responsabilidade para os indivíduos, sendo necessário exercer mais pressão sobre os decisores políticos e as empresas.
“Politicamente, não conduziu a conclusões corretas sobre as vias nacionais de emissão de carbono. Ainda estamos num mundo em que a redução das emissões de carbono é mais cara e mais trabalhosa do que a simples utilização de combustíveis fósseis. Isso frustra muito as pessoas”, admite à Euronews Antje Boetius, diretor do Instituto Alfred Wegene, centro de investigação. “Muitas vezes, as pessoas ficam surpreendidas quando ouvem que 10% de todas as empresas ou pessoas são responsáveis pela maioria das emissões de carbono”, acrescenta.
Um estudo de 2021 concluiu que, embora a pegada de carbono seja mais conhecida, “é também [o indicador] onde o caos é mais evidente”, uma vez que não tem uma definição e um método de cálculo consistentes. Os especialistas defendem, por isso, a normalização das metodologias e as ferramentas para comparar corretamente a pegada de diferentes produtos e ações, e evitar a confusão e o “greenwashing”.
A “pegada de carbono” foi bastante popularizada junto de grandes empresas petrolíferas. De acordo com o jornalista científico Mark Kaufman, a BP contratou a empresa de relações públicas Ogilvy & Maher para popularizar o termo “pegada de carbono” no início da década de 2000, numa tentativa de transferir o ónus da descarbonização para os consumidores. Em 2004, a BP lançou uma das primeiras calculadoras de pegada de carbono e ainda hoje promove o conceito.
“Penso que as relações públicas da indústria petrolífera têm funcionado muito bem para desviar as pessoas, em vez de as juntar na procura de infraestruturas e soluções socioeconómicas”, refere Antje Boetius.
Alguns investigadores sugerem que as calculadoras da pegada de carbono inibem as pessoas, as empresas e os políticos de tomarem as medidas necessárias para enfrentar as alterações climáticas.
“A pegada de carbono é uma distração; precisamos de uma mudança social generalizada e de uma alteração completa da forma como tudo é feito. As reduções pessoais são importantes, mas a um nível que nos distrai da necessidade de uma mudança completa do sistema”, afirma Tom Bradley, diretor da empresa de consultoria ambiental Decerna, em declarações à Euronews.
Para mudar o sistema, é preciso repensar a forma como medimos as pegadas, diz Mathis Wackernagel, presidente do grupo de reflexão sobre sustentabilidade Global Footprint Network, responsável por desenvolver o “Earth Overshoot Day” (o dia em que a humanidade esgota os recursos naturais que a Terra pode repor num ano) e uma “Ecological Footprint” (a rapidez com que consumimos recursos e geramos resíduos em comparação com a rapidez com que a natureza pode absorver esses resíduos e gerar novos recursos naturais).
“A linguagem da culpabilização não ajuda”, afirma Wackernagel, defendendo uma medida mais abrangente da pegada ecológica e objetivos climáticos centrados em tornar os recursos mais seguros, em vez de se limitarem a reduzir ao mínimo possível as nossas pegadas.
Além disso, os especialistas destacam a necessidade de começarmos a exigir mais ações climáticas aos governos para reduzir as pegadas gigantescas dos maiores poluidores.
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