Biovilla. A cooperativa de onde ninguém sai o mesmo
A Biovilla é uma cooperativa que sonha no coletivo. Todos fazem tudo, até porque o objetivo é manter vivo um espaço que é alojamento, mas
A Quinta da Quinhas abriu em Vila Praia de Âncora para ser o abrigo de quem por lá passa a caminho de Santiago de Compostela, mas também de todos os que procuram um local de trabalho e de pertença. A Peggada esteve neste cowork e alojamento do Alto Minho e conta-te tudo o que de lá podes esperar.
Patrícia Labandeiro é uma veterena no que toca ao Caminho de Santiago. Tanto que à pergunta sobre quantas vezes já o fez, responde: “Depois das dez vezes deixamos de contar”.
O fascínio pelos dias passados a pôr um pé em frente ao outro até ao local mítico da Galiza vem-lhe da ligação próxima que tem com a natureza e pela proximidade física a uma terra que serve de passagem aos peregrinos.
Apesar de ser de Viana do Castelo, o companheiro, André, é de Vila Praia de Âncora, paragem obrigatória para quem segue este caminho junto à Costa.
Embora cada um estivesse confortável na sua profissão — Patrícia é psicóloga e André tinha uma loja de produtos de outdoor — os dois tinham vontade de ter um negócio próprio, mais perto da natureza, e que lhes desse mais liberdade para aproveitar a família.
A quinta, que hoje é tão mais do que um espaço para guardar animais, pertencia à família de André, que ficou feliz ao ver a vontade de fazer daquele hectare algo mais valioso.
O que inicialmente foi pensado para ser apenas um albergue de peregrinos, é hoje a Quinta da Quinhas — um cowork rural, um alojamento, e um espaço agregador de quem passa e de quem passa e já não quer sair.
A ideia de um cowork numa aldeia pode parecer absurda para quem se habituou a vê-los no centro das grandes cidades, mas existe até uma Rede Internacional de Coworks Rurais, que liga todos estes espaços que trazem aos meios mais pequenos esta possibilidade de trabalhar remotamente, mas com companhia e com as facilidades que um escritório pode trazer.
“Temos pessoas que vivem cá perto e que usam o espaço para trabalhar diariamente, mas também recebemos muitos estrangeiros que ficam durante uma temporada”, explica Patrícia, enquanto nos apresenta todas as possibilidades de espaços.
Há mesas corridas, mesas altas, cabines individuais, e escritórios — estes designados de “óincs”, porque antes de serem um espaço de trabalho, eram pocilgas.
Preservar os espaços originais foi uma das principais preocupações de Patrícia e André durante a recuperação do espaço. “Aqui no cowork guardavam-se os tratores e as lenhas, e ali na zona de mesas de trabalho funcionava a maternidade das vacas, até porque a produção e venda de leite era uma das principais fontes de rendimento da família do André”, refere Patrícia. Há ainda um balneário na parte exterior, pensado para quem gosta de fazer uma pausa no trabalho para uma corrida ou para um mergulho no mar. Esse espaço já foi, em tempos, o ponto onde paravam os animais para a extração do leite.
“É exatamente esta mistura entre modernidade e a ruralidade que faz deste espaço algo único”, diz Patrícia.
Leonor Leite confirma. É uma das pessoas que ocupa um dos escritórios do cowork, onde desenvolve o seu trabalho enquanto artista. “Mudar-me de uma grande cidade para aqui foi assustador, mas a verdade é que nunca me senti sozinha”, garante. E muito graças à Quinta da Quinhas. “Já é aquele sítio que todos indicamos quando vemos alguém a chegar de novo à comunidade”. E chegam mesmo. O espaço é agora ocupado essencialmente por pessoas que vieram de outros pontos do país e do mundo e decidiram viver nas redondezas. “Saudades da cidade não tenho, mas sabia que ia sentir falta do lado cosmopolita da cidade. Mas, por estranho que pareça, acabei por encontrá-lo aqui”, garante.
Para quem quiser experimentar, o primeiro dia de cowork é sempre gratuito. A diária é 8€ e existem ainda pacotes de dez dias por 70€. Há ainda a possibilidade de pagar uma mensalidade, escolhendo ai entre um espaço no open space ou num dos escritórios.
O alojamento da Quinta está preparado para todo o tipo de procura, desde peregrinos que querem apenas ficar uma noite, até aos nómadas digitais que procuram um espaço para viver e trabalhar durante alguns meses. E mais: há sempre espaço para quem procura a Quinta da Quinhas apenas para visitar e aproveitar o espaço, seja em casal, em família, ou com amigos.
Para isso, o alojamento divide-se em camaratas, quartos individuais e uma tiny house, esta última feita com todas as comodidades e pensada para ser independente do espaço comum. Ainda assim, tem sempre a ganhar numa visita ao espaço comum, não só pela interação com outros hóspedes, como para usufruir do pequeno-almoço: todas as manhãs, o balcão da cozinha enche-se de pão fresco, cereais, café, iogurtes, e tudo o que é preciso para começar o dia.
Pela localização — a 10/15 minutos do centro de Vila Praia de Âncora, — Patrícia e André decidiram facilitar a vida de quem fica na quinta, no que toca a refeições. Assim, numa parceira com a Casa Almeida, um restaurante de Caminha, é possível encomendar o jantar, que será entregue em mãos por quem o cozinhou.
Joana Almeida voltou às raízes depois de anos a trabalhar fora. Dessas viagens trouxe a vontade de fazer diferente, com um restaurante onde os pratos feitos com modernidade, usando tantas vezes os produtos que lhe chegam da horta de sua casa. “Comigo nada se desperdiça. Faço compotas, chutneys, fermentados, invento pratos, mas tudo será aproveitado”, garante. Para quem visitar o restaurante, há pratos do dia (sempre com opções vegetarianas), pequenos almoços, brunch, vinhos e cocktails, para todas as alturas do dia. E para quem chegar à Quinta da Quinhas até às 16h, tem a oportunidade de encomendar uma refeição caseira e entregue em mãos pela Joana, que traz sempre muito mais do que comida.
Com vontade de dedicarem mais tempo ao cowork e ao trabalho de apoio ao empreendedorismo que lá se desenvolve, Patrícia e André decidiram, no início deste ano, entregar a gestão do alojamento ao Hotel Meira, um hotel histórico de Vila Praia de Âncora, que tem agora um desafio em mãos.
Flávia Arieira, responsável de comunicação do Hotel, explica que, ainda que os peregrinos sejam o público principal, têm vindo a receber mais pessoas que procuram o coliving e, durante o verão, famílias à procura de um espaço para passar uns dias.
A Quinta está sempre aberta a todos e não é raro ver os coworkers a virem também ao fim de semana, não só pela garantia de convívio, mas como pelo espaço totalmente preparado para receber crianças — há um trampolim, uma cozinha de lama, jogos, e animais que adoram umas festinhas. Os três burros — Bugalho, Bolota e a Camélia —, e a porquinha da Índia Pipa são responsabilidade de todos, porque é assim que se vive em comunidade. Até nós, antes da partida, fomos lá dar à Pipa mais umas rodelas de pepino, o seu snack preferido.
O espaço organiza ainda aulas de português para estrangeiris, aulas de arte, de yoga e organzia uns dias especiais, como o das Vendas de Bagageira, que promovem a economia circular.
A sustentabilidade sempre foi um dos pilares da quinta, e não se perdeu nesta evolução.
Existem compostores na horta, usam apenas fertilizantes naturais, há uma horta onde os hóspedes podem ir buscar produtos, e estão a eliminar espécies invasoras e a reflorestar com espécies autóctones, como os carvalhos. Fazem parcerias com projetos locais, como a já mencionada Casa Almeida, mas também com a loja a granel Cesta d’Avó, disponibilizando produtos para consumo no cowork.
Os eventos ou a novidades são sempre partilhadas nas redes sociais, mas nada como uma visita à quinta. Mas cuidado, há um sério risco de não querer sair.
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Este artigo aborda uma ação que promove a mudança para cidades e comunidades mais inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis, ajudando na redução do impacto ambiental adverso das cidades.
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