Dia da Sobrecarga da Terra. A partir de hoje, vivemos a crédito ambiental
Hoje, dia 2 de agosto, chegamos ao Dia da Sobrecarga da Terra, ainda que tenhamos 150 dias até ao fim do ano. Ainda que um
Foi uma das surpresas agradáveis de 2023 no mundo dos videojogos. Em vez de criar cidades, os jogadores do Terra Nil são responsáveis por reestabelecer ecossistemas e fazer a terra passar cinzento e do castanho ao verde.
Mesmo que não sejas conhecedor de videojogos, é possível que já tenhas ouvido falar de obras como o “Sim City” e seus sucessores. A premissa destes jogos é simples: planear uma cidade e fazê-la expandir consoante os recursos disponíveis e as necessidades dos cidadãos.
Os exemplos mais recentes do género têm colocado uma tónica cada vez maior na sustentabilidade e no ambiente: más práticas resultam em mau estar para os habitantes e custos acrescidos causados pelas alterações climáticas. Terra Nil pega nestas regras e manda-as pela janela.
Desenvolvido pela equipa sul-africana da Free Lives, sediada na Cidade do Cabo, este jogo é descrito pelos seus criadores como um “construtor de cidades ao contrário”. No entanto, esta caracterização — pensada para promover Terra Nil junto dos fãs dos jogos acima descritos — não faz jus à premissa.
Apesar do ambiente zen e colorido, o jogador está a cargo de recuperar um ecossistema destruído, tendo de planear os seus passos consoante as ferramentas que tem à disposição. Por exemplo, num dos primeiros níveis, é preciso transformar um terreno desolado e ecologicamente devastado num vale verdejante. Como? Primeiro, tem de instalar uma turbina de vento e purificadores de toxinas para transformar o solo desértico em terra fértil.
À medida que vais instalando estas ferramentas, vais ganhando pontos para os próximos passos: estes podem passar por causar explosões para criar cursos que vão dar lugar a rios, ou até fazer queimadas controladas numa savana, por exemplo, para que as cinzas funcionem como fertilizante para criar uma floresta. O resultado final deve ser um ecossistema incólume, com os animais como residentes.
A reação da crítica tem sido positiva, mas com alguns reparos: alguns passos são lineares e restritivos, ou seja, se o jogador não fizer a escolha certa, vai ter de voltar atrás numa lógica de tentativa e erro. É aqui que se distancia da lógica dos “city builders” tradicionais, pois não há total liberdade de escolha. Talvez por isso, o melhor mesmo é considerar este um jogo de puzzles.
Uma das facetas mais curiosas de Terra Nil é que é suposto não deixar qualquer rasto humano na paisagem criada. Ora, isso seria impossível com toda a maquinaria necessária para chegar a este resultado. É por isso que o objetivo final é mesmo usar drones para recolher tudo — é como se nunca tivéssemos estado lá.
“Em muitos jogos de construção, como por exemplo o Factorio, o mundo é gerado à medida que o exploras e é infinito. Não interessa o quanto escaves; como o jogo é sobre construir fábricas, vão haver sempre mais minerais. O nosso jogo tem uma filosofia de recursos limitados. O mapa fica sempre do mesmo tamanho. O jogo requer que equilibres os vários tipos de flora, e não podes ganhar ao criar apenas florestas ou pântanos”, contou Sam Alfred, líder da equipa, à revista WIRED.
É por isso que este é um jogo que, apesar de usar a mesma fórmula, é como que a antítese de jogos como o Sim City: se aí o objetivo é a expansão do humano sobre a paisagem natural, aqui é minimizá-la ao absoluto. Aliás, como o The Escapist denota na sua crítica a Terra Nil, há um lado negro neste jogo: num dos mapas é preciso transformar uma cidade devastada numa paisagem natural. Ou seja, está implícito no jogo de que o apocalipse climático acabou por chegar e que o que o jogador está a fazer é limpar os destroços.
Terra Nil não propõe soluções para a crise climática, é suposto ser uma experiência relaxante que permite “aos jogadores sentirem-se jardineiros, ao trazer vida de volta a um sítio morto”, como diz Alfred à WIRED. No entanto, também não se nega ao propósito de funcionar como um statement político, especialmente quando esta é uma indústria que depende da extração de metais raros — para as consolas e para as placas gráficas dos computadores, por exemplo — e tendo em conta muitos outros jogos já começam a abordar o tema, mas de forma tímida.
“É impossível para um jogo ser verdadeiramente apolítico. Apresentá-lo como tal é, com efeito, uma posição política. Eu acho que os estúdios [de programação] sabem disso, mas é muitos mais fácil para um [estúdio] indie comentar temas deste género”, afirma.
Sam Alfred, de resto, sugeriu à mesma revista formas como jogos — especialmente de construção — deviam abordar os temas das alterações climáticas e da sustentabilidade. “Tornar as mecânicas quanto à exploração do mundo natural muito mais punitivas. Por exemplo, a poluição causar uma camada de smog que tem efeitos intensamente negativos nos cidadãos, a não ser que tenham máscaras de gás, que são muito caras”, apontou. Por outro lado, podem “recompensar os jogadores por terem abordagens sustentáveis. Punir agricultura intensiva, recompensar manutenção dos solos. A melhor forma de conseguir com que os jogadores se interessem por estes temas é fazer com que as mecânicas do jogo os reflitam”, defende.
Fora do ecrã, o Terra Nil também tomou passos em prol da sustentabilidade. Em conjunto com o projeto Tree Nation, o lançamento do jogo resultou na plantação de 48873 árvores na África do Sul, tendo sido conseguido com a colaboração de 50 streamers que reverteram parte dos seus lucros para este fim. Além disso, 8% dos lucros com a venda do jogo na plataforma Steam foram destinados à associação Endangered Wildlife Trust, resultando num total de 95 mil dólares.
O jogo está disponível para jogar nos sistemas operativos Windows e iOS e em formato mobile, mas também é possível jogá-lo na Nintendo Switch. Além disso, está disponível para descarregar gratuitamente para os subscritores da Netflix.
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