Na guerra há sempre um vencedor e um perdedor, mas no que toca ao clima o fim não é tão linear. Sabe tudo o que pode acontecer.
Não foi preciso ninguém vir dizer aos países europeus que devem apostar ainda mais em energias renováveis. Infelizmente, a guerra entre a Ucrânia e a Rússia encarregou-se disso, uma vez que vários países dependiam até ao momento do gás natural russo.
Sem acesso a este recurso, como forma de contestar a invasão russa levada a cabo por Vladimir Putin, as atenções têm ido para outras alternativas.
“Quanto mais os países puderem livrar-se do petróleo e do gás e avançar para as energias renováveis, mais independência terão em termos de ação”, nota a diretora do Centro para Clima e Segurança, em Washington, Erin Sikorsky, citada pelo “Los Angeles Times“.
Numa guerra, o mais importante é salvar os inocentes, mas é inevitável pensar nas consequências a longo prazo e a verdade é que o clima está também em jogo nesta equação.
A União Europeia tem vindo a trabalhar numa estratégia para reduzir o uso de gás natural e substitui-lo por energia solar, hidrogénio renovável e eficiência energética e agora essa transformação torna-se ainda mais urgente.
Dividimos em três pontos os principais efeitos (positivos e negativos) que esta guerra tem sobre o clima.
1. Restruturação geopolítica dos recursos
A dependência do gás natural russo, assim como dos combustíveis fósseis, fez disparar os preços da energia um pouco por todo o mundo, que começa a acordar para a necessidade de alterar a estratégia energética.
“Realmente precisamos de pensar profundamente como reestruturar o sistema global de energia para evitar a vulnerabilidade aos caprichos de um único país ou de um único homem”, afirma Jesse Jenkins, engenheiro de energia de Princeton, ao “Los Angeles Times”.
Qual será então a alternativa ao petróleo e gás natural? Fontes de energia renováveis e o seu bom uso.
“Desperdiçarmos menos e fazermos um melhor aproveitamento da energia que temos disponível e depois que essa energia seja de fontes renováveis”, são as sugestões para uma transição ecológica dadas por Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, à TSF.
2. Maiores níveis de poluição
“Um dos alvos que tem vindo a ser atingido nesta guerra são as unidades industriais, desde refinarias a outro tipo de fábricas, e isso significa impactos em termos de poluição da água, de tanques de petróleo, de armazenamento de combustíveis, de contaminação das águas subterrâneas, dos incêndios que estão a contaminar o ar, muitas das vezes com químicos perigosos”, alerta Francisco Ferreira.
O problema é que além de a guerra estar a piorar o estado dos mares, pode vir a atrasar a discussão sobre os mesmos. A Conferência dos Oceanos da ONU, prevista para entre 27 de junho e 1 de julho, em Lisboa, poderá vir a ser adiada devido à situação atual entre a Rússia e a Ucrânia, conforme apontado pelo ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, ao “Expresso“.
Esta conferência (que já foi adiada duas vezes por causa da pandemia da COVID-19) será importante para estabelecer estratégias de proteção dos oceanos e áreas marinhas e combater as pescas ilegais.
3. Maior uso de transportes públicos
Com o aumento do preço dos combustíveis, é provável que muitas pessoas optem por mover-se de transportes públicos. Contudo, esta mudança pode não ser imediata, até porque vimos de uma pandemia que afastou as pessoas de tudo o que fosse lugares fechados e com muita gente. “Ainda estamos longe da ocupação que tínhamos antes da pandemia, há pessoas com receios legítimos que temos efetivamente que ultrapassar”, refere Francisco da associação Zero.
A este medo ainda generalizado, juntam-se as greves. A Associação Rodoviária de Transportes Pesados de Passageiros (ARP) avisou esta segunda-feira, 14, que nos próximos dez dias os autocarros escolares e de transporte de trabalhadores para as fábricas podem vir a parar, cita o “Expresso“.
Sem carros e transportes públicos o que resta? Bicicletas. E inúmeras vão partir a 27 de março, às 9h, do Parque Municipal da Saldida, na Murtosa, para mais uma edição da Primavera Ciclável – Festa da Bicicleta.
Este ano a iniciativa solidária terá como objetivo apoiar os refugiados da guerra na Ucrânia com a totalidade do valor da inscrição: 5€. Podes inscrever-te aqui.