Na Califórnia, os produtores de vestuário e de artigos de tecido terão de assumir a responsabilidade por todo o ciclo de vida dos seus artigos, graças a uma nova legislação.
Uma nova legislação da Califórnia, nos Estados Unidos, pretende mudar a forma como as roupas são descartadas, obrigando os produtores de vestuário, toalhas, roupa de cama e estofos a implementar e financiar um programa estadual de reutilização, reparação e reciclagem dos artigos que vendem.
A Lei de Recuperação Têxtil Responsável “estabelece o primeiro programa de reciclagem de têxteis de Responsabilidade Estendida do Produtor do país, marcando um passo significativo nos esforços do estado para combater o desperdício e promover a sustentabilidade (…). Uma vez implementada, não só reduzirá a quantidade de têxteis enviados para os aterros, como também apoiará o desenvolvimento da reciclagem e do upcycling em toda a Califórnia e ajudará a resolver os impactos ambientais da fast fashion e da “cultura do descartável” que esta fomentou”, lê-se no comunicado.
Até 2030, os residentes poderão levar de forma gratuita o vestuário e os têxteis domésticos indesejados ou mesmo danificados a lojas de artigos usados, instituições de caridade e outros locais de recolha acessíveis em todo o estado para serem separados e reciclados.
Sob a autoridade do departamento de reciclagem do Estado, os produtores serão incentivados a adotarem práticas menos poluentes e a criarem designs mais ecológicos, tornando-os responsáveis pelos seus produtos ao longo de todo o ciclo de vida.
“Trabalhámos arduamente para consultar e, eventualmente, alinhar todas as partes interessadas no ciclo de vida dos têxteis, de modo a que no final não houvesse oposição”, explica ao The Guardian Josh Newman, o senador democrata que patrocinou o projeto de lei, o primeiro do género no país.
Este foi aprovado com amplo apoio dos legisladores estaduais em agosto e foi agora promulgado pelo governador da Califórnia, Gavin Newsom. “É uma coisa extremamente difícil de fazer quando se considera a magnitude do problema e todos os interesses muito diferentes”, explica o senador.
Ao longo do processo legislativo, o projeto de lei recebeu um apoio generalizado, com mais de 150 apoios de organizações ambientais, governos locais, gestores municipais de resíduos e retalhistas, incluindo o California Product Stewardship Council (CPSC), IKEA, Goodwill, Sierra Club California, Everlane, Reformation, Boardriders e Republic Services.
O funcionamento de todo o sistema ainda não é totalmente conhecido, uma vez que as empresas terão até 2026 para criar uma organização sem fins lucrativos que conceberá os locais de recolha, os programas de devolução por correio ou outras soluções. Estima-se que o programa não estará operacional antes de 2028.
Apesar de ser uma iniciativa pioneira no país, os países europeus foram os primeiros a abordar o problema dos resíduos têxteis através de legislação. A França aprovou em 2007 uma lei de reciclagem de têxteis que impulsionou a taxa de desvio de resíduos têxteis para reutilização (de 18% para mais de 39%). Em 2023, os Países Baixos seguiram o exemplo, lançando o seu próprio programa, e a União Europeia declarou a recolha alargada de têxteis como obrigatória até 2025 em todos os Estados-Membros.
“Aprendemos com muitos dos defensores envolvidos no programa da França e eles têm sido muito ativos para garantir que o que a Califórnia faz possa ser replicado positivamente”, explica a Dra. Joanne Brasch, diretora de defesa e divulgação do Conselho de Gestão de Produtos da Califórnia, que co-patrocinou a nova legislação.
O custo da fast fashion
Só em 2021, cerca de 1,2 milhão de toneladas de têxteis foram descartadas na Califórnia, custando aos contribuintes mais de 70 milhões de dólares.
De acordo com a Dra. Brasch, os cidadãos vão pagar pela moda e pelos resíduos têxteis, de uma forma ou de outra. “As nossas contas do lixo vão aumentar se as cidades tiverem de resolver o problema, os nossos impostos vão aumentar se tivermos de remediar os danos ambientais”, refere ao The Guardian.
Com a nova legislação, Newman assegura que os consumidores não deverão sentir qualquer aumento de preços e estima que o custo para os produtores será inferior a 10 cêntimos por peça de vestuário ou têxtil.
O vestuário usado é o fluxo de resíduos que regista o crescimento mais rápido nos Estados Unidos. Desde 1960, a quantidade de resíduos têxteis gerados no país aumentou quase dez vezes, ultrapassando mais de 17 milhões de toneladas em 2018, sendo que 85% de todos os têxteis acabaram em aterros.
Apesar de 95% dos têxteis dos materiais – incluindo tecidos, fios, fibras, fechos de correr e botões – serem reutilizáveis ou recicláveis, apenas cerca de 15% são atualmente reciclados ou reutilizados.
“Não se trata apenas de reciclagem; trata-se de transformar a forma como pensamos sobre os resíduos têxteis”, sublinha Newman, na nota de imprensa.
Podia ter entrado em Meteorologia e Oceanografia, mas acabou por estudar Comunicação. E ainda bem, porque se não acertam nas previsões, não era ela que iria mudar isso. Começou por procurar ideias e projetos sustentáveis para a universidade e desde aí, nunca mais parou (quem é que para realmente?). Adora ver séries, mas vê poucas porque é uma pessoa difícil. Já para abraçar novos hábitos e desafios mais “verdes”, não precisa de muito para a convencer.
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