A Rewilding Portugal pretende devolver um corredor de 120 mil hectares do Vale do Rio Côa à vida selvagem e à biodiversidade.
Há um grupo de pessoas em Portugal que assumiu um objetivo: renaturalizar o Vale do Rio Côa, devolvendo esse espaço à fauna e flora da região.
O Vale Carapito é uma das áreas do Grande Vale do Côa (que se estende desde a
Serra da Malcata até ao rio Douro) em que a Rewilding Portugal, uma organização não-governamental, opera.
Fundada em janeiro de 2019, o objetivo da Rewilding Portugal é promover a conservação da natureza através de medidas de renaturalização. No total, a ONG pretende devolver 120 mil hectares do Vale do Côa que hoje estão ao abandono.
A 20 de março, um grupo de 23 apaixonados pela natureza juntou-se nesse espaço para uma caminhada interpretativa, com o objetivo de observar e aprender mais sobre a vida selvagem daquela região. A iniciativa inseriu-se no âmbito da celebração do segundo Dia Mundial do Rewilding e foi organizada pela Rewilding Portugal.
Como se renaturaliza uma região?
O rewilding, ou a renaturalização, consiste em permitir que a natureza cuide de si mesma, dando espaço a que os processos naturais moldem a terra e o mar, reparem os ecossistemas danificados e restaurem paisagens degradadas. No site da Rewilding
Europe, pode ler-se que “quando se trata de sobrevivência e de auto governação, a natureza sabe melhor”. Para a organização, esta prática é um esforço importante para travar a crise da biodiversidade e as alterações climáticas. Vendo a vida selvagem como um aliado, passamos a confiar e colaborar com espécies chave no trabalho árduo de recuperar ecossistemas perdidos e degradados. A renaturalização permite que a natureza recupere ao seu ritmo, mas não deixa de trazer também benefícios para as comunidades rurais, que podem reflorescer graças ao turismo de natureza e outras atividades.
O envolvimento da comunidade rural é, de resto, outro dos objetivos da
Rewilding Portugal. Para a ONG, é essencial incentivar uma economia baseada na
natureza e na cultura, criando apoio comunitário a um ambiente mais selvagem. Esta
colaboração e consciencialização vê-se não apenas na rede de turismo sustentável que fundaram, a Wild Côa Network, mas também nas suas atividades do dia a dia. A sua equipa de vigilância, por exemplo, ao patrulhar vastos quilómetros todas as semanas para detetar incêndios rurais, acaba por contactar com produtores e pastores locais, reforçando o vínculo entre população e vida selvagem.
O esforço levado a cabo por estes guardiões da biodiversidade já está a trazer
resultados. Recentemente, a equipa confirmou que uma nova colónia de abutre preto, na Reserva Natural da Serra da Malcata, e tem verificado o aumento da vida selvagem no Vale do Côa, nomeadamente através da expansão da área de distribuição do lobo ibérico, do veado-vermelho e do corço.