A fast fashion continua a produzir de forma insustentável, ainda que algum trabalho esteja a ser feito para mudar este caminho. Uma taxa sobre peças com plástico não reciclado pode vir a travar a produção com impacto ambiental.
Sabes o que tens dentro dos armários de roupa? Combustíveis fósseis. Não acreditas? A Royal Society of Arts, Manufactures and Commerce (RSA), organização britânica que desenvolve soluções a pensar no futuro do planeta, comprovou-o e sugere que seja criado um imposto sobre o vestuário com plásticos virgens.
Basta veres a etiqueta das tuas roupas (exceto as que compraste recentemente em marcas que fizeram um esforço para se tornarem mais sustentáveis — já lá vamos) e vais encontrar materiais como nylon, acrílico e elastano, os tais combustíveis fósseis de que falávamos. Estes são usados na indústria de fast fashion (moda rápida) e, uma vez descartados em aterros quando já estão fora de moda ou sem condições, contribuem para as alterações climáticas e para a poluição.
“Estes tecidos fazem parte de uma economia petroquímica que está a alimentar as desenfreadas alterações climáticas e a poluição”, afirmou Josie Warden, chefe de design regenerativo da RSA e co-autora do relatório Fast Fashion’s Plastic Problem.
Josie baseia-se no estudo britânico, divulgado a 11 de junho, que analisou mais de 10 mil peças de roupa de várias marcas. Os autores concluíram que cerca de 49% das roupas são feitas a partir de plásticos novos, como poliéster, acrílico e náilon.
É verdade que algumas marcas têm feito um esforço por tornar a produção mais sustentável, como é o caso da C&A, que além de ter criado uma linha de fatos de banho e biquínis de nylon reciclado para este verão, vai inaugurar no outono uma Fábrica de Inovação Têxtil (C&A’s FIT) em Mönchengladbach, Alemanha. Aqui serão produzidos os primeiros jeans com a certificação Cradle to Cradle (C2CTM) Ouro, bem como outras peças, através de um método neutro em emissões de CO2.
Contudo, em marcas como a Boohoo e a Asus, apenas 4% e 5% dos artigos, respetivamente, contêm materiais reciclados, de acordo com o estudo britânico. “Devemos ver muitos destes artigos, que têm preços baixíssimos, como outros plásticos de curta duração”, disse Warden, co-autora do estudo que diz que as empresas de moda rápida são demasiado lentas a adotar alternativas sustentáveis. A juntar a isto está o facto de as peças não serem “concebidas para terem uma vida longa nos nossos roupeiros”, diz.
Para a RSA, a solução — apresentada ao Governo britânico — passa por criar um imposto sobre o vestuário feito com plásticos virgens, que posteriormente será aplicado na criação de novos materiais, na reciclagem e servirá ainda para incentivar a indústria aderir a uma produção mais sustentável.
E parece que há já quem concorde com a ideia. Mais de um quarto da população americana (31%) disse que apoia a criação de uma taxa sobre roupas insustentáveis de fast fashion, de acordo com um estudo divulgado em maio pela empresa Genomatica.