No El Corte Inglés, a roupa usada ganha uma nova vida
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Para uma reportagem, a Reuters rastreou onze pares de sapatos, que acabaram por ser encontrados longe de qualquer central de reciclagem de Singapura, como era prometido.
A empresa multinacional americana Dow Inc — e uma dos maiores produtoras petroquímicas do mundo — e o governo de Singapura prometeram recolher e transformar ténis velhos em material esponjoso para construir parques infantis e
pistas de corrida, mas na verdade, nada disso aconteceu.
A descoberta é da equipa de investigação da Reuters, que escondeu dispositivos de localização em 11 pares de calçado doados, que nunca chegaram a um centro de reciclagem local.
Segundo comunicados de imprensa e um vídeo promocional publicado online, o programa de reciclagem consistia na trituração das solas e entressolas de borracha e evitaria que 170 mil pares de calçado acabassem anualmente em aterros. Sob o slogan “Others see an old shoe. We see the future”, os residentes de Singapura foram incentivados a deixar o calçado em contentores, disponíveis em parques, centros comunitários, escolas e pontos de venda da Decathlon, patrocinador do projeto.
De acordo com declarações da Dow à Reuters em janeiro, o projeto está a fazer progressos, com a construção de uma instalação desportiva em Jurong e um complexo de futebol em Singapura, recorrendo a 10 mil kg de material reciclado para a construção das superfícies. No entanto, a agência noticiosa não conseguiu verificar os factos, uma vez que ambos os complexos se encontram em construção e isolados do público. Inicialmente, 10 pares doados pela Reuters foram exportados das lixeiras de
reciclagem para o armazém de Yok Impex, um exportador de têxteis situado em Singapura. A partir daí, viajaram por mar até à ilha indonésia de Batam. O 11º par foi detetado pela última vez num bairro residencial de Singapura.
Alguns sapatos foram encontrados numa feira da ladra, que abastece compradores de baixo rendimento, outros acabaram em zonas demasiado remotas para serem localizados pessoalmente e três pares deixaram de enviar sinal depois de chegarem à Indonésia.
Depois de ser confrontada com as descobertas da Reuters no início de 2023, a Dow referiu que tinha aberto uma investigação juntamente com o Sport Singapore, uma agência estatal, e outros patrocinadores do programa — Decathlon, o banco
Standard Chartered, a empresa local de gestão de resíduos ALBA W&H Smart City Pte. Ltd e uma empresa responsável pela trituração do calçado doado numa instalação local.
No fim da investigação, concluiu-se que a Yok Impex seria retirada do projeto, sem explicar o seu envolvimento inicial.
Embora a amostra da Reuters seja pequena, o facto de nenhum dos sapatos ter chegado a uma instalação de reciclagem em Singapura “realça as fraquezas do
sistema”, como escrevem na reportagem. Grupos ambientalistas classificam as afirmações sobre reciclagem de empresas químicas, como a Dow, como exageradas ou falsas, usadas na tentativa de transmitir ao público uma falsa sensação de segurança sobre o impacto ambiental do aumento do consumismo.
Os esforços falhados de reciclagem da Dow já tinham acontecido no passado, em
projetos também investigados pela Reuters. Em 2021, um programa em Idaho destinado à utilização de tecnologia inovadora para transformar resíduos de plástico em combustível limpo, estava na realidade a queimar lixo plástico para alimentar uma fábrica de cimento.
No mesmo ano, um projeto apoiado pela Dow na Índia deveria recolher plástico do rio Ganges e utilizar tecnologia para transformar os resíduos em combustível limpo — contudo, o projeto foi encerrado na sequência de avarias regulares do equipamento.
Os sapatos doados, que acabaram por chegar à Indonésia, vieram juntar-se a uma inundação de roupa em segunda mão ilegal. Desde 2015 que a importação de
vestuário e calçado usado é proibida no país devido às suas consequências na higiene e na propagação de doenças e à necessidade de proteger a indústria têxtil local. No entanto, este mercado vale milhões de dólares por ano e a única ação
tomada pelo Ministério do Comércio até ao momento foi a revogação das licenças de importação e a apreensão e destruição de vestuário usado.
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Na Califórnia, os produtores de vestuário e de artigos de tecido terão de assumir a responsabilidade por todo o ciclo de vida dos seus artigos,
Apesar de a reciclagem mecânica ser o método mais utilizado, esta não consegue lidar com têxteis multifibra. A nova abordagem promete reciclar eficazmente estes resíduos,
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