O mote é a sustentabilidade e esse tema dava para várias notícias, entrevistas e reportagens. A Ikea já há muito que não é apenas a loja onde vamos para as soluções de mobiliário e decoração a preços acessíveis. É também um exemplo no que toca à economia circular.
Utilizam apenas energia de fontes renováveis, apostam numa segunda vida para os materiais, têm igualdade de género em posições de chefia e não existe gap salarial para homens e mulheres na mesma função.
Falamos com Ana Barbosa, Sustainability Manager da IKEA Portugal, numa conversa que relembra os primeiros tempos da empresa em Portugal — e como a sustentabilidade já era um pressuposto para a sua integração no nosso país — e que não termina sem enumerar o que ainda há para fazer, com a ambição de reduzir o impacto da mobilidade e promover os serviços circulares.
1. A IKEA nasceu em 1943, numa altura em que a sustentabilidade não era ainda uma questão primordial para as empresas. Como começou este caminho?
A sustentabilidade faz parte da cultura da IKEA e é parte integrante dos nossos valores. Na IKEA sempre houve uma grande consciência de recursos e a ambição de fazer mais com menos. Desde aproveitamento e reaproveitamento de materiais até às nossas embalagens planas, são vários os exemplos na IKEA em que a sustentabilidade foi integrada na nossa cadeia de valor, mesmo quando ainda não existia como conceito. Por outro lado, há uma grande conexão entre sustentabilidade e a nossa visão de criar um melhor dia a dia para a maioria das pessoas.
Faz-nos sentido alargar esta visão e considerar o planeta como a casa de todas as pessoas e, desta forma, torna-se muito natural integrar uma estratégia de sustentabilidade no nosso plano de negócios, abrangendo toda a cadeia de valor, com o objetivo de ter um impacto positivo nas pessoas e no planeta ao mesmo tempo que desenvolvemos o negócio.
No mundo atual, isso significa transformar o nosso negócio e otimizar a cadeia de valor para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, oferecer soluções para uma vida mais sustentável em casa para os nossos clientes e impactar de forma positiva as pessoas que tocamos na nossa cadeia de valor.
O que se concretiza, por exemplo, em iniciativas para redução da pegada de CO2 nas operações das lojas; também em incorporação de matérias-primas renováveis ou recicladas na nossa gama; desenvolvimentos de produtos mais eficientes no consumo de água ou eletricidade; ou iniciativas para promover a economia circular, visando prolongar a vida dos produtos e reduzir o desperdício.
Não esquecendo as pessoas, que são parte integrante do triângulo da sustentabilidade, trabalhamos há mais de 20 anos com o nosso código de conduta junto de fornecedores, para garantir condições e direitos dos trabalhadores assim como preservação ambiental. E, com os nossos colaboradores, trabalhamos muito também a Igualdade, Diversidade e Inclusão.
2. Quando se instalou em Portugal, essa preocupação foi tida em conta desde o início? Quais foram os primeiros passos?
A sustentabilidade está no ADN da IKEA, como dizia, e integrada no negócio, incluindo novos mercados, lojas, e pontos de contacto. E em Portugal, não foi exceção.
Naturalmente, a nossa estratégia de sustentabilidade, iniciativas, objetivos, são mais concretos e ambiciosos hoje do que eram há 20 anos. No entanto, algumas das práticas que temos hoje sempre fizeram parte dos nossos planos de expansão. Como soluções de eficiência energética ou de poupança de água. E mesmo a nossa Área Circular, onde trabalhamos todos os dias para evitar desperdício vendendo produtos usados, faz parte do nosso conceito há muito anos – anteriormente era chamada secção de Oportunidades.
Hoje olhando para o que já foi feito em Portugal na área de sustentabilidade diria, que somos mesmo um país exemplar no mundo IKEA nesta área. Não usamos combustíveis fósseis nas nossas operações diárias, a eletricidade que usamos é 100% renovável, sendo cerca de 20% produzida em autoconsumo nos nossos painéis fotovoltaicos. Temos um parque eólico no Pisco que produz energia para cerca de 30 lojas IKEA. E fazemos neste momento mais de metade das nossas entregas em veículos elétricos.
Tem sido uma caminhada sólida de transição para energia renovável, o que se traduz em redução de emissões de CO2. E que continuaremos a fazer.
3. Poderiam apenas focar-se a vender móveis e continuar uma marca que já é um sucesso. Gostava de saber o porquê de terem a sustentabilidade como um pilar da vossa empresa.
Consideramos, de forma muito clara, que o crescimento do negócio deve acontecer ao mesmo tempo que impactamos positivamente pessoas e ambiente. O que nos mantém fiéis à nossa visão de criar uma vida melhor à maioria das pessoas, procurando soluções que vão ao encontro das necessidades dos nossos clientes hoje, sem comprometer as gerações futuras.
Ao mesmo tempo, para além do alinhamento com a nossa visão e cultura, integrar a sustentabilidade no negócio será em breve, se não é já, um imperativo. Para assegurar cadeia de valor do ponto de vista de custo e de disponibilidade de produtos, mitigar riscos de eventos climáticos extremos, atrair e reter talento, assim como manter a confiança dos clientes. Já para não referir cumprimento de requisitos legais.
Há ainda a fantástica oportunidade que a sustentabilidade traz, como investimentos rentáveis, poupanças, destaque face à concorrência. Tudo isto são vantagens competitivas.
É por isso que a sustentabilidade está integrada de uma forma estratégica em todas as dimensões do negócio, com metas ambiciosas de redução de pegada carbónica (em valores absolutos), incluindo a transformação num negócio circular, com impacto positivo nas pessoas.
No nosso negócio temos ainda a oportunidade de apresentar soluções aos nossos clientes que lhes permitem ter hábitos mais sustentáveis, poupando nos consumos de água e eletricidade, evitando desperdício ou descartáveis. O que multiplica o nosso impacto.
É bom negócio ser um bom negócio.
4. Esse trabalho acontece também para dar resposta a um público cada vez mais exigente? De que forma notam essa exigência?
O compromisso da IKEA com a sustentabilidade pretende, além de oferecer soluções e serviços mais acessíveis, funcionais e sustentáveis, inspirar os clientes a adotarem comportamentos mais sustentáveis dentro e fora dos limites de casa. Os nossos estudos demonstram que os portugueses estão mais conscientes e preocupados com as alterações climáticas (assim como sociais e éticas), e dispostos a adotar melhores hábitos em casa. Embora as pessoas estejam cada vez mais interessadas em reduzir o seu impacto no planeta, muitas não sabem como fazê-lo. E têm grandes expectativas nas marcas para assumirem a sua parte de responsabilidade e apresentarem soluções.
De forma a facilitar este processo, concentramo-nos em alguns aspetos fundamentais: poupança de energia e água; redução de desperdício, nomeadamente de alimentos e de descartáveis; e prolongar a vida dos produtos que já temos, através de cuidado e manutenção, personalização ou compra e venda em segunda mão.
5. Falamos também de sustentabilidade na vertente social. De que forma trabalham essa vertente?
Na IKEA abordamos a sustentabilidade social através de diversas iniciativas.
Temos a ambição de impactar positivamente as pessoas que tocamos na nossa cadeia de valor.
Começando pelos nossos colaboradores, onde trabalhamos as áreas de Igualdade, Diversidade e Inclusão como referi. Já há várias anos que temos igualdade de género em posições de chefia e não temos gap salarial para homens e mulheres na mesma função. E onde temos vinda a trabalhar anualmente no aumento do salário mínimo, para que haja uma remuneração justa para todos os colaboradores.
Também trabalhamos na cadeia de valor como referi, como o nosso código de conduta IWAY.
E finalmente apoiamos grupos vulneráveis nas comunidades locais, seja em situações de emergência ou em projetos contínuos. É um trabalho de parceria com entidades locais, nomeadamente com os nossos parceiros sociais, e que passa maioritariamente pela criação ou apoio à criação de casas seguras e dignas, sejam as próprias casas, espaços de acolhimento temporário, ou “segundas casas” como centros de dia ou de atividades. Sendo o mais importante que todos têm direito a uma casa digna e segura, especialmente os mais vulneráveis.
6. Sabemos que contam com a comunidade para impulsionar algumas mudanças. Consegue dizer-me algumas das principais preocupações dos clientes e de que forma lhes deram resposta?
Como referi, os nossos estudos demonstram que os portugueses estão conscientes e preocupados com as alterações climáticas, e dispostos a adotar melhores hábitos em casa. Embora muitos não saibam como fazê-lo. E têm grandes expectativas nas marcas para assumirem a sua parte de responsabilidade e apresentarem soluções.
Algumas das áreas que são mais interessantes ou em que têm mais exigências estão relacionadas com poupanças em casa, nomeadamente de eletricidade, quais as matérias-primas e valorização de matérias-primas recicladas, assim como possibilidade de compra e venda em segunda mão.
Na IKEA respondemos a esta última necessidade através de iniciativas como o serviço “2ª Vida”, a oferta de peças sobressalentes e ferragens para substituição nos nossos produtos e a disponibilidade de produtos em segunda mão na área circular das lojas.
7. Quais são os maiores desafios em transformar o sistema de uma empresa com base linear, em algo circular?
O grande desafio é o próprio conceito, ou seja, fechar o ciclo de materiais, uma vez que a nossa sociedade e infraestruturas terão de ser repensadas.
A nossa abordagem é múltipla, começando pelo design do produto, que deve incorporar princípios circulares, passando pelas matérias-primas, mas também múltipla funcionalidade, durabilidade pensada para várias vidas e reciclabilidade.
Do ponto de vista de matérias-primas a nossa ambição é usar apenas matérias-primas renováveis ou reciclados nos nossos produtos até 2030, o que será um enorme passo nesta área.
Também os serviços circulares que referi acima, e outros ainda a implementar, fazem parte desta equação.
E finalmente trabalhamos a eficiência das operações, minimizando o desperdício e maximizando a reciclagem.
Mantemos o foco no nosso objetivo de sermos num negócio circular, regenerar recursos e com impacto positivo no clima, enquanto fazemos crescer o negócio da IKEA.
8. Quais os desafios a que se propõem a curto e longo prazo?
Os grandes desafios e nos quais estamos a trabalhar incluem a redução do impacto da mobilidade (“last mile”, colaboradores e clientes) e a promoção de serviços circulares, entre outras.
9. Quais as mudanças sustentáveis que a IKEA preconiza e que não são tão visíveis ao cliente?
Para além dos temas relativos a colaboradores e impacto social já referidos acima, que regra geral são menos conhecidos pelos consumidores.
Apresentamos algumas das iniciativas que a IKEA tem vindo a colocar em prática:
. Em 2015, iniciámos a transição para iluminação LED, que se encontra hoje 100% concretizada, ou seja, só utilizamos este tipo de tecnologia nos nossos espaços;
. Utilização de “Solar tubes” – um sistema de iluminação natural com utilização de refletores, que permite a entrada de luz solar em grande parte das lojas e armazéns;
. Uso de sensores para gerir áreas sem necessidade de iluminação permanente;
. Inflatable dock shelters, o sistema insuflável instalado nas entradas de veículos nos cais de descarga para evitar perdas de calor ou frio;
. Implementação de sistemas inteligentes de gestão de edifícios (Building Management System) nas nossas lojas, que otimizam os consumos, nomeadamente na área de climatização.
. Utilizamos apenas energia de fontes renováveis nas nossas operações.
. Mais de metade das nossas entregas de encomendas em casa dos clientes são feitas com veículos elétricos.
. Quase 90% dos resíduos são encaminhados para reciclagem.
. Temos um serviço de Segunda Vida ativo permanentemente.
. Temos uma gama crescente de produtos que contribuem para um dia a dia mais sustentável em casa.
. Implementação de painéis fotovoltaicos para autoconsumo, reduzindo assim, o consumo da rede e produzindo energia renovável.
10. Está responsável pela área da sustentabilidade da Ikea desde 2017. Consegue dizer qual o momento mais marcante deste percurso de seis anos?
É difícil escolher apenas um momento, porque tenho vivido anos muito ricos em ações e resultados na IKEA.
Destaco o marco do nosso ano fiscal 2019, primeiro ano em que reduzimos, em valor absoluto e em toda a cadeia de valor da IKEA, a pegada de CO2, demonstrando que é possível desassociar o crescimento do negócio do crescimento das emissões de gases com efeito de estufa. Tendência que mantemos.
Mas também na IKEA Portugal, em 2022, quando o último equipamento a gás foi removido, celebramos o marco de não usarmos combustíveis fósseis nas nossas operações diárias.
Talvez o mais próximo do meu coração, tenha sido o apoio a crianças de famílias vulneráveis, na sequência da pandemia COVID-19, que apoiamos com donativos de secretárias, candeeiros e brinquedos, para facilitar o estudo e o tempo passado em confinamento. Colaboramos com 80 parceiros sociais e apoiamos 10.000 crianças. Tivemos também oportunidade de distribuir nós próprios alguns destes móveis e brinquedos. E o sorriso dessas crianças é impossível de esquecer.
A associação GS1 Portugal disponibiliza à comunidade empresarial consultoria em standards e rastreabilidade, cálculo de emissões de gases de efeito de estufa ou realização de
Gigante sueca do imobiliário vai deixar de comercializar todas as pilhas alcalinas não-recarregáveis e apostar nas recarregáveis. Cumprindo com os seus objetivos de sustentabilidade, a
Passo a passo, a IKEA quer tornar-se cada vez mais sustentável. O último a ser anunciado é o fim do plástico dentro de sete anos.
Este artigo promove uma ação que incentiva à diminuição de geração de resíduos por meio da prevenção, redução, reciclagem e reutilização.
Para descobrir mais negócios que estão alinhados com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12 “Produção e Consumo Sustentáveis” clica aqui.
Para ver notícias, dicas e entrevistas sobre este tópico, clica aqui
Queres saber mais sobre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas? Clica aqui
Esta publicação também está disponível em:
English (Inglês)
