O debate sobre ação climática tem sido invadido nos últimos tempos pelo termo “Offsetting de Carbono”. A Peggada explica-te o que é isto de criar um mercado para trocar carbono e porque é que esta tem sido uma medida tão debatida nas últimas negociações climáticas.
O que é o Offsetting de Carbono?
Tal como o termo indica, o Offsetting de Carbono é uma estratégia de compensação. Esta estratégia pressupõe a criação de um mercado de troca de carbono segundo a qual uma entidade pode continuar a emitir os mesmos valores de carbono se compensar essas emissões num qualquer outro local do mundo. Ou seja, e em termos práticos, é como se pudesse continuar a andar de avião 5 vezes ao ano se mandar plantar 10 árvores. Esta tem sido uma estratégia usualmente apresentada como medida de mitigação para as alterações climáticas mas que tem o seu quê de controverso.
Para que serve?
Um sistema de compensações carbono pode ainda ser interpretado como uma estratégia de transição. É sabido que todas as indústrias terão de começar a pensar numa estratégia para atingir a neutralidade carbónica a tempo de evitar um desastre climático. Contudo, certas indústrias como a do cimento ou da aviação são mais intensivas nas suas emissões do que outras, existindo pouca margem de manobra para que possam prosperar sem exercerem uma grande pressão sobre o planeta. Numa tentativa de concretizar uma transição socialmente justa, que não negligencie os direitos dos trabalhadores ligados a tais indústrias, esta estratégia pode ser utilizada para amenizar o impacto que uma mudança mais radical. Em suma, enquanto encontram soluções (tecnológicas e não só) para o impacto que têm, estas entidades poderão ao menos neutralizar as suas emissões, contribuindo para a redução de emissões numa outra área.
O que pode significar?
Não se trata de uma estratégia consensual no mundo da ação climática. Enquanto organizações como a WWF falam desta estratégia como um último recurso prático e útil, a Greenpeace apresenta-se muito mais crítica em relação à mesma, pintando-a como uma “licença para poluir”. Isto porque uma compensação não significa obrigatoriamente uma redução, sendo que muitos crêem que esta estratégia ignora precisamente isso, e que é então até certa medida uma falsa solução, ou seja, mais um momento de greenwashing. No fundo, e recuperando o exemplo anterior, não é por plantar 10 árvores que deixei de emitir o equivalente a 5 voos.
Entidades como a Greenpeace sugerem esta estratégia pode representar apenas um reforço do status quo incapaz de fazer face à raíz do problema.
Permissão para poluir?
A criação de um mercado de trocas de carbono tem potencial, para o sucesso e para o desastre. Se for mal utilizada, esta estratégia pode significar mais uma permissão para continuar a poluir ou pode até passar a mensagem de que qualquer quantia de dinheiro é capaz de corrigir emissões de carbono excessivas. Por outro lado, esta pode ainda ser uma medida de transição essencial capaz de agilizar a criação de um paradigma em que empresas, governos e indivíduos se vêm obrigados a pensar em formas de compensar as suas emissões.
Esta será uma medida capaz de agilizar a descarbonização a nível global apenas se for entendida em simultâneo como uma obrigação para parar de poluir. Se todos passarmos a andar mais de avião porque podemos plantar árvores do outro lado do planeta para compensar então a estratégia perdeu o seu efeito catalisador de uma transição climática já que o problema não foi resolvido na origem.
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