A luta contra o desperdício alimentar é uma urgência. Fica a conhecer este relatório que junta diretrizes para os municípios e dá Portugal como exemplo.
A Zero Waste Europe, em associação com a Slow Food criou um relatório que fornece apoio local a entidades municipais para ajudar a reduzir o desperdício alimentar através de uma abordagem holística permitindo a transição para um sistema alimentar sustentável.
O guia descreve as várias ações que um município pode implementar para influenciar a redução do desperdício alimentar e estimular um sistema alimentar local e sustentável.
Estima-se que cerca de 20% da comida produzida na União Europeia é desperdiçada. Portanto, o assunto é da máxima urgência.
Durante o estudo, foi elaborada uma hierarquia que permite perceber em que diferentes níveis este desperdício acontece, para que a ação aconteça em várias frentes:
1- Prevenção na fonte: prevenção na fonte em cada fase do sistema alimentar;
2- Recuperação dos alimentos: recuperação dos alimentos que ainda se encontram em bom estado, priorizando as doações a alimentação humana em detrimento de alimentação para os animais ou processamento bioquímico;
3- Reaproveitamento: transformação noutros produtos;
4- Digestão anaeróbica e compostagem descentralizada: descentralizar as áreas para aproveitar estes resíduos em áreas menos densamente populosas;
5- Tratamento mecânico de lixo orgânico misto: lixo orgânico estabilizado e distribuído apenas em terras que não são utilizadas para a agricultura, respeitando as regras da não contaminação (aterros como último recurso depois da estabilização química);
6- Inaceitável: ida direta para o aterro sanitário ou incineração.
Foram também criados pontos orientadores — que apostam na educação, numa agricultura cooperativa e numa gestão de lixo orgânico — e case studies que mostram como alguns municípios já estão a pô-los em prática. E há exemplos em Portugal! Vamos conhecê-los melhor:
Cidade do Porto compromete-se a combater o desperdício alimentar
Em 2017, o Porto comprometeu-se a tornar-se mais circular adotando o Roteiro para a Economia Circular em 2030. O desperdício alimentar é um pilar fundamental dessa estratégia, que passa também por perceber que a redução do desperdício de alimentos requer uma abordagem holística do
sistema alimentar local. Assim, a cidade já começou a implementar um roteiro integrado sobre alimentação tentando construir um sistema alimentar local sustentável. Este roteiro trabalha em quatro frentes:
● Promoção da agricultura local através da produção local e regional – criação de hortas urbanas, geridas por voluntários; aconselhamento e suporte técnico oferecido pela cidade; gestão de mercados de produtos frescos de modo a reduzir a cadeia entre produtores e consumidores finais.
● A prevenção do desperdício alimentar através da distribuição de excedentes de produção a pessoas necessitadas ou divulgação de melhores práticas, como reajustamento das porções servidas nos restaurantes e hotéis e a possibilidade de levar as sobras das refeições para casa.
● Gestão de resíduos orgânicos através da sua recolha e compostagem.
● Sensibilizar os cidadãos e os atores locais através de programas ou centros educativos. Por exemplo, a cidade criou uma rede de centros municipais de educação ambiental para informar os cidadãos sobre hortas urbanas e como podem participar.
Fruta Feia – por um sistema alimentar mais eficaz e justo
A “Fruta Feia” consiste numa cooperativa de consumidores que tem como objetivo reduzir o desperdício de frutas e vegetais devido ao seu aspeto físico que não está em conformidade com a estética standard das grandes superfícies – forma, cor ou tamanho – existente em 14 pontos de entrega em Portugal. Esta iniciativa privada cria uma ponte entre os produtores com excesso de produção e os
consumidores que podem usufruir cabazes de produtos frescos a um preço reduzido. Até ao momento, a iniciativa ligou 307 produtores a 7383 consumidores e permitiu salvar 3336 toneladas de comida que iria ser desperdiçada.
O sucesso deste projeto baseia-se na:
● Colheita de frutas e hortaliças “feias” de produtores locais, que, de outra forma, seriam deixadas a apodrecer nos campos, evitando perdas importantes de alimentos, vendidos com desconto aos consumidores.
● Ajuda de voluntários para montar os cabazes de frutas e vegetais. O projecto estimula, assim, o envolvimento dos cidadãos, pois são eles que têm um papel ativo na solução para o problema do desperdício alimentar.
Uma das formas em como os municípios podem ajudar na redução do desperdício alimentar ao nível da produção é providenciando apoio financeiro ou logístico a projetos como este. Por exemplo, em Portugal, o município de Almada ajudou a “Fruta Feia” cedendo espaços públicos necessários à gestão e
distribuição.