Sabemos que, tal como nós, existem centenas de outros projetos a querer fazer mais pelo planeta. Fomos ter com eles para saber mais sobre o que os move e o que podemos deles esperar. Uma vez por semana, uma startup, uma entrevista, cinco perguntas.
Falamos com Emiliano Gutiérrez e Lucia Salas, fundadores da Raiz Vertical, uma que empresa portuguesa pretende transformar a forma como se produzem os vegetais, com recurso à agricultura vertical, aproveitando a luz solar natural, complementada com luz artificial num ambiente controlado.
As hortas da Raiz Vertical não só ocupam menos espaço, como permitem o uso de menos 50% de fertilizantes, 12 vezes menos água, 95% menos uso de terra e 100% menos de pesticidas.
Que problema vem resolver a tua startup?
Há uma necessidade urgente de ação climática por todo o mundo.
Precisamos de mudanças consequentes na forma como produzimos, consumimos e levamos a vida no geral. Escolhemos marcar a nossa posição focando-nos na transformação da indústria alimentícia.
O problema principal por resolver é um sistema alimentar altamente ineficiente e contaminante.
- Intensificação da insegurança alimentar em todo o mundo, causada pelas alterações climáticas e exacerbadas pelo aumento da população
- Contaminação ambiental associada à agricultura tradicional.
- Cadeias de produção e abastecimento longas e ineficientes, que contribuem para mais de terço das emissões globais de GEE
- Desconexão da população com a natureza e forte dependência da cidade na produção externa de alimentos.
Em que países estão presentes?
Estamos a meio da construção da nossa primeira horta, que será instalada no final do mês no Arroz Estúdios, no bairro do Beato (Lisboa).
O objetivo é desenvolver a RAIZ no sul da Europa e em países com grandes quantidades de luz solar, já que as nossas hortas aproveitam ao máximo esse recurso.
No futuro, as hortas serão quase autônomas, o que significa que poderemos instalá-las em lugares inóspitos como desertos ou regiões muito frias.
Porquê a área da sustentabilidade para começar um negócio?
A mudança do paradigma para uma preferência por produtos mais sustentáveis tem-se acelerado na última década. Observa-se também uma crescente adoção de dietas baseadas em vegetais e uma crescente procura por produtos não só “sustentáveis” mas também “saudáveis”
Ou seja, encontramo-nos num momento de charneira na mentalidade global, que deve ser acompanhado pela integração de práticas sustentáveis e de menor impacto ao longo das cadeias de valor, algo crítico para a nossa sobrevivência.
Concretamente, para conseguirmos produzir alimentos em quantidade e qualidade suficiente no futuro, vamos ter que tornar o sistema alimentar mais sustentável, em todas as suas vertentes.
O consumidor consciente exige dos produtores a garantia de práticas responsáveis, e cada vez mais procura experiências personalizadas,e com impacto quantificado. Este tipo de oferta não é ainda generalizada.
É neste contexto que surge a RAIZ. Procuramos produzir alimentos de uma forma transparente e com medidas de sustentabilidade, ou impacto, quantificadas, cultivando sempre uma experiência próxima do consumidor.
Quais os maiores obstáculos de trabalhar nesta área?
Escalabilidade: por ser uma atividade com uma componente forte de equipamentos (hardware), o crescimento implica um aumento dos custos fixos, e um alto investimento inicial.
Investimento: Somos uma empresa física, que atua na área da sustentabilidade. Neste contexto, não podemos maximizar “a todo custo” o benefício econômico. O desafio é então quantificar e valorizar o nosso impacto ambiental e social, de forma a atrair investidores focados em projetos de impacto.
Espaços: encontrar espaços obsoletos nos meios urbanos para instalação das hortas é sempre um desafio.
Desconhecimento do público: o público em geral carece ainda de conhecimento aprofundado acerca dos impactos das atuais formas de produção agrícola. Um grande trabalho de educação é necessário para conscientizar uma população que tradicionalmente tem prestado mais atenção ao preço na hora de escolher um produto, naturalmente.
Qual a conquista que de que mais te orgulhas enquanto líder desta startup?
Tenho orgulho de juntar uma equipa incrível e talentosa que conta com especialistas em engenharia informática, arquitetura, restauração, sustentabilidade, biologia, negócios e marketing; capaz de desenvolver uma narrativa forte em torno da Raiz, dando origem a uma comunidade crescente e gerando interesse global em torno de nosso potencial para criar um impacto positivo.
Qual o próximo passo?
. Lançamento da horta protótipo no Arroz Estúdios no dia 25 de junho à tarde. Anotem já no calendário, estão todos convidados!
. Captar fundos com a primeira ronda de financiamento (preseed) no mês de junho
. Estandardização dos processos e protocolos, refinamento do software e expansão comercial em outras cidades no final de 2022.
. Integrar a tecnologia blockchain da Near (o primeiro protocolo blockchain Climate Neutral), com a tokenização das nossas hortas.
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