O Chiado ganhou um restaurante de fine dining vegetariano. O menu é fixo, com surpresas e a simpatia de quem nos serve faz valer a visita.
O chef José Avillez, dono de várias dezenas de restaurantes que abrem e fecham com grande velocidade, abriu mais um, o Encanto, com um menu exclusivamente vegetariano. Pode não ser a epítome da sustentabilidade, mas tal como nas grandes marcas que decidem cortar nas embalagens de plástico ou fazer uma coleção com garrafas o fundo do oceano, há que aplaudir as pequenas mudanças.
No número 10 da Rua Serpa Pinto já viveu o primeiro Belcanto e também o Canto, um projeto que juntava comida à música, e no qual o chef uniu forças a António Zambujo e Ana Moura. Agora, a música é ambiente, com ritmos de bossa nova, ainda que todo o ambiente seja bem português.
Nos tetos e paredes, ordenados de forma bem original, estão pormenores que gritam nacional: chapéus de palha, Bordallo Pinheiro, colheres de pau, pequenos regadores e arados, lembrando que o que interessa aqui é o que a terra dá.

Há mesa, os pratos são sem carne e peixe, privilegiando os vegetais e as leguminosas, aqui trabalhados de forma bem original. O tremoço, por exemplo, vem em forma de shot líquido, o grão molda-se em ovinhos dourados de húmus.
O menu é fixo, custa 95€, e contempla doze pequenos momentos, que vão das entradas à sobremesa, e que podem ser acompanhados por um menu de vinhos de oito momentos (65€) ou cinco momentos de bebidas sem álcool (45€).
As surpresas do jantar
Os pratos vão chegando à mesa numa montanha russa de quente, frio, finger food e comida de comer à colher.
O menu começa com pequenos snacks surpresa, com ingredientes como o aipo, o amendoim, mini peixinhos da horta e o tal húmus moldado em ovinhos envoltos num dourado a fazer lembrar os de chocolate que nos habituamos a comer na Páscoa.
A seguir, chega uma azevia que pedia mais recheio, até porque é feito de favas e todos merecemos mais favas na vida. Para complementar, o tremoço feito bebida, numa das apresentações mais surpreendentes da noite. Ups, a seguir trazem-nos pão a ser barrado com uma manteiga feita de cinzas. Afinal, o fator surpresa vai prolongar-se.
Já estamos mais do que prontos para os pratos principais. Não nos vamos alongar nos detalhes do menu, apenas deixar-vos estas palavras, as mesmas que o restaurante usa na descrição do prato: arroz – trufa negra – espargos brnacos – manteiga de ovelha. Deu vontade de cancelar o que ainda estava por vir e pedir mais uma dose. mas vamos lá ganhar forças para continuar.

As sobremesas não são o ponto forte da refeição, ainda que a que chamam de pré-sobremesa deveria ganhar o papel principal. Falamos aqui do sorvete de morango, servido com um creme de coco e brócolos. Sim, brócolos.

O serviço é do mais simpático que há, ainda que a refeição pedisse mais pormenores na apresentação dos pratos e que fossem além da descrição que já vem no menu. O fim da refeição pedia também um café melhor, mas isso já somos nós que não gostamos de estragar o palato com o típico expresso a saber, tantas vezes, a queimado.
Mas tudo o resto faz valer a pena. A simpatia de quem nos serve vale muito, e aquele arroz de trufa ainda mais.
P.S. Ainda que a sustentabilidade não seja ainda o foco neste grupo de restauração, segredaram-nos que, e passo a citar, “é um caminho que estamos a fazer”.
Outro P.S. Ainda que o menu não seja vegan, o restaurante providencia um a pedido. É só avisar na reserva.
Encanto
Morada: Largo de São Carlos, 10, 1200-410 Lisboa
Horário: de terça a sábado 19h – 22h30